terça-feira, 22 de junho de 2021

Crescer é uma mentira

 Como estudante estrangeiro eu tenho passado por muitas coisas na minha vida cá que eu nunca tive preparação sequer para o mesmo.

É que desde pequeno tive a maior ideia de crescer e estudar fora, uma vida tão romantizada pelos media sociais e nos filmes/séries. Mas eles nunca te dizem realmente o que podes passar do outro lado.

Isto também vem da escola, pois as únicas coisas que eles sentem que tem valor para te ensinar, são coisas que no seu todo, nem 1% da tua vida adulta vais utilizar. Para quê que tenho de me focar tanto em fixar história que nem é minha, eu como negro africano, pelo qual a minha foi a pagada. Para que fixar equações, gráficos, fórmulas e leis que não vão me ajudar a manejar o meu dinheiro, fazer o IRSS, pagar os impostos. Para que conhecer tanta matéria se nem conheço a mim mesmo, não te ensinam a lidar com os stresses emocionais que a vida adulta te dão, mas quando das a justificação que o teu bem estar mental não esta no melhor lugar, eles nem, querem, saber.

Uma das piores coisas sobre crescer é também que sempre te apanha desprevenido, por mais que sintas que estás pronto até onde der, tu nunca estarás pronto. Mas a verdade é que nem o 1º adulto sabia o que era ser adulto, nem os teus pais sabiam, ninguém sabe. Por mais que pareça, cada um está a tentar adaptar a vida adulta por mais que pareça que tenha tudo controlado, há sempre uma conta que está na cabeça, há sempre um trabalho a fazer, algo para arranjar na sua casa, não esquecendo de cuidar de si mesmo, manter o seu mental firme, ter uma vida amorosa se isso lhe importar no momento, enfim, é muito para lidar duma só vez. Por mais que aches que estejas pronto para lidar com isso, não estás, ninguém está.

Algo em particular que me deixa frustrado é o como honestamente, nunca estás satisfeito como que acabas de fazer. No meu caso como estudante estrangeiro, é difícil ter ajuda com a documentação pois a burrocracia portuguesa é bastante caótica. Serviços de atendimento ao telefone são uma desgraça, e quando te atendem podem dizer que para tratar o documento "H" tu vais precisar dos documrentos "a","b" e "c", mas ao chegares no local para tratá-lo, dizem que necessitam de documento "x", "y" e "z". As coisas nunca estão claras e por consequência passas muitíssimo tempo a sofrer só para viveres legalmente cá após o visa ter expirado. Sobre tudo isso eu tenho de manejar os meus estudos e pensar no meu futuro, manejar o meu dinheiro de renda, comida e outras despesas, para quando os docentes me perguntarem porque é que não tive nas aulas durante as duas ultimas semanas eu não saber o que responder porque, eles não, querem, saber.

É incrível como eu queria crescer para poder conduzir, sair de casa quando eu quiser e viver a vida a minha maneira, só para descobrir que no final é tudo uma mentira. Se pudesse voltar no tempo, voltava, mas a vida foi feita como é, e só posso adaptar me a ela.


sábado, 19 de junho de 2021

Não há cabeça

De repente caiu sobre mim algo bastante claro: estou cansado. É isso. É mesmo isso. Estou mesmo cansado. Como é suposto estar em junho e não pensar só em praia e descanso? Como é suposto ainda estar a trabalhar para a escola? Foi um ano complicado e percebo o porquê de ser cada vez mais complicado trabalhar- estou cada vez mais cansado e não há energia de reserva nem adrenalina final. Há só um último remoer de entregas finais que chateiam a cabeça e o corpo. É uma questão de sobrevivência: de conseguir, de facto, entregar os projetos e simultaneamente, e se possível, poupar a minha saúde.

Tem sido difícil escrever algo aqui para o blog. Pensei em 1000 temas e comecei a escrever uns quantos, mas parei sempre porque nada me entusiasmava e, adivinharam: estou cansado. Nem escrever sobre não estar a conseguir escrever conseguia.

O último texto que comecei a escrever era uma reflexão sobre como me sentia relativamente ao ensino artístico. Mas também parei esse. Estava a ver o meu pensamento levar-me para palavras-chave como “injustiça” e “certo” e “errado”, e não gosto muito de ter o meu raciocínio a incidir nesses termos que simplificam as coisas porque acho que pouco acrescentam à conversa muito mais complexa que é estar a estudar artes hoje em dia.

No entanto, dessa reflexão ficaram indícios que ainda vivem aqui na cabeça.

Questiono-me sobre a estruturação de um curso artístico por padrões e regras semelhantes a outros cursos mais técnicos e teóricos. Questiono-me sobre a relevância das notas, que mais me parecem uma padronização e organização de algo não tão organizado. Prazos, diretas, frustrações; um ano sem entreajuda e comunicação entre colegas, um ano em que uma casa vira atelier, oficina e sala de aula; pensar a curto prazo, viver cada entrega e não conseguir pensar nas que são mais longínquas, tentar fazer a minha cena mas não ter o espaço nem tempo para a fazer: acho que é isso que me fica deste ano.

O meu papel como aluno não devia ser queixar-me nem, muito menos, considerar a escola um entrave. Não é particularmente essa a minha posição de qualquer forma. No entanto, não preciso de ser lesado e afetado de uma forma que me incapacite e me fracasse, de uma maneira ou outra, para me aperceber de todas as lacunas existentes. De facto, também não sou de todo imune ao sistema académico e artístico. E por mais que queira, estou a ver que sempre me vou queixar porque tenho o direito de ser crítico de um sistema no qual me escolhi inserir conscientemente. E não vejo as coisas muito bonitas. Mas não é tudo mau. Também, o que é que eu sei? Estou cansado e já não estou com cabeça para sequer queixar-me.


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Título em branco como a minha mente

 

Sentei-me ao computador às 23:00 para realizar este texto, são agora 00:48 e mantenho-me neste vazio de pensamentos. Geralmente sou boa nos trabalhos escritos, mas neste não. Dentro desta área à base de trabalhos práticos e criativos, sinto-me segura nos trabalhos objetivos, com apenas resposta certa e errada, o resto fica na habilidade da escrita. No entanto este não tem resposta certa, nem acredito que se foque na minha gramática e construção frásica. Este trabalho será apenas uma reflexão, uma pequena parte de mim exposta num blog, vulnerável aos olhos de tantos como eu. Mas não o sei fazer. Em vez de pegar no computador, expor um sentimento e enviar, não, pensei em temas. Pensei em temas tão gerais e importantes em sociedade, mas nada me atingia, nada tocava naquele ponto que me fizesse escrever sem parar. Depois lembrei-me nas reflexões que atingiam, demasiado. Iniciei mais um e outro texto e não consegui terminar. Não é algo que se escreva para o mundo, não na minha cabeça. Mas porquê? Li tantos textos de colegas a expor algo profundo de si, os seus sentimentos não tão agradáveis, ou não tão expostos ao mundo. Não entendo porque é que não o sei fazer. Não entendo porque é que me é tão difícil admitir sentimentos humanos. Mandam-me escrever um texto político, farei a minha pesquisa e ficará bem estruturado e desenvolvido. No entanto, pedem-me um texto qualquer, algo que me passe pela cabeça e que eu queira partilhar, e nada me ocorre. Talvez porque partilhar não me faz sentido. Essa vulnerabilidade tão crua e nua de apenas mostrar como funciona a minha linha de pensamento, a minha capacidade de reflexão individual ou coletiva. Não é algo um pouco extremo de se pedir? Acredito que sim.

 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

O bezerro de ouro - o caracter

   Os bezerros de ouro continuam. Os símbolos que usamos e idolatramos têm apenas novas formas, formas inócuas e inofensivas. As palavras e as letras cegam-nos, dando-nos a falsa noção de que conseguimos de facto comunicar de modo claro e conciso.

  Na verdade, cada palavra que adquirimos no nosso léxico apenas nos afasta daquilo que verdadeiramente sentimos; ou pelo menos é essa a visão defendida no Dualismo/ Dualidade de Platão. Esta visão é também representada de modo famoso e óbvio no Taoísmo e conceito de Tao, algo que quando dito, quando conscientemente assimilado pela nossa rede mental de padrões, símbolos e terminologias, perde a sua mensagem e significado (esta mensagem é curiosamente das mais universais em quase todas as religiões mais populares). Esses símbolos, caracteres com valor fonético podem parecer comunicar de modo satisfatório o nosso ponto de vista, no entanto, chegam a iludir o próprio sujeito do pensamento. 

  Isto é, um sentimento ou uma sensação é algo inexplicável, que de certo modo nos transcende ainda, mas, como é típico do ser Humano, a necessidade por explicar e compreender tudo por símbolos de valor qualitativo idealmente universal é mais forte que a necessidade de ser imerso pelo sentimento e experienciá-lo plenamente. 

  Efetivamente, quando éramos apenas bebés, tínhamos visualmente emoções, emoções estas que eram, mesmo sem linguagem, compreensíveis e qualificáveis pelas pessoas que entravam em contacto conosco. Não conhecíamos a linguagem, as letras eram ainda nada mais que rabiscos sem valor. O nosso pensamento não poderia ter uma voz que se expressava por palavras humanas, no entanto a emoção era tão pura. Gostaria de saber em que é que eu pensava mas este próprio desejo está me a ser comunicado por palavras, numa voz interior, que influenciam e transfiguram a minha vontade. Mesmo se eu me conseguisse exprimir como sempre sonhei, ninguém compreenderia. O meu discurso nunca será coerente o suficiente para satisfazer a minha necessidade por compreensão.

  As palavras não são o sentimento, são uma mera interpretação humana de algo inexplicável por palavras criadas por seres efêmeros. São o nosso bezerro de ouro atual, confiamos nelas tudo, todas as nossas relações, muitas vezes sem pararmos para pensar no quão a interpretação de frases pode afetar a situação. Damos lhes um valor divino e deixamos que elas governem o mundo, raramente cientes que nada é mais puro que um sentimento não pensado. É o nosso pequeno jardim de Éden, antes das palavras e dos símbolos que uso aqui para expressar uma ideia inexpressável.


A ilusão da diversidade temática

 Hoje em dia temos todo um universo de informação na ponta dos dedos. Com três ou quatro toques conseguimos aceder a uma infinidade de conhecimento em livros, artigos, vídeos e uma vastidão de outros meios sobre uma abundância de temas, desde as questões mais prevalentes da atualidade, aos mais anódinos e insignificantes tópicos. Com esta quantidade e variedade de conteúdos, seria de esperar que estivéssemos constantemente expostos a diferentes temas, novas perspetivas e um leque de opiniões contrastantes, no entanto, cada vez mais, tem se verificado o contrário. Os conteúdos que nos são apresentados têm sempre tem ideias similares, e apesar da variedade disponível tendemos a ficar circunscritos àquilo que nos é familiar.

Um dos principais causadores disto, são, claro está, os próprios distribuidores de conteúdo. Estas empresas dependem inteiramente do interesse dos usuários no seu conteúdo, do tempo que estas gastam nas suas plataformas compradas com plataformas concorrentes. Assim, o verdadeiro objetivo destas empresas não é diversificar o nosso conhecimento, mas sim alimentar-nos de um constante fluxo de assuntos, conceitos e obras em que já demonstrámos um interesse, para não passarmos um momento entediados ou em conflito de opiniões com o conteúdo. É fácil, portanto, cair numa espiral de uma temática. Depois de interagir com um objeto desse tema, recebemos outro e se continuamos a receber temas semelhantes que complementam o anterior, e ainda que existam opiniões contrastantes sobre esse tema, estas não nos são apresentadas, uma vez que não encaixam tão bem no perfil que a plataforma cria para nós. Aqui, a quantidade de conteúdos acaba por ser inimiga da variedade, uma vez que a afluência de novos materiais semelhantes suplanta a necessidade de recomendar qualquer outra coisa.

No entanto, apesar de grande parte das vezes a crítica estar apontada para as grandes empresas e estas serem condenadas por esta problemática, cada usuário pode, e deve, também ser culpabilizado.

Na verdade, ainda que esta não nos seja apresentada frequentemente, existe uma desproporcional variedade de conhecimento nos meios digitais, e um dos maiores fatores para a nossa falta de interação com esta é a nossa própria inércia. Temos todos conhecimento da abundância disponível, no entanto, tornámo-nos completamente apáticos a isto. Muitas vezes estamos quase num estado de completa indolência, em que aceitamos o entorpecimento e o entretenimento fácil que obtemos com um conteúdo que não nos estimule ou nos desafie, preferindo ficar a ouvir observações semelhantes do que tentar compreender assuntos, debater ou confirmar a veracidade daquilo que nos é colocado à frente.

Contudo à mais um fator que reflete a atitude da sociedade atual: o narcisismo de cada ouvinte. Os media atuais, em particular as redes sociais criaram um culto da personalidade do qual, conscientemente ou não, muitas vezes tentamos fazer parte. Tornou-se bastante fácil para toda a gente partilhar a sua opinião, a sua vida e criar toda uma identidade apelativa, publicitar a sua vida privada e, acima de tudo, obter validação através dos meios digitais. Como tal, é mais reconfortante para o nosso ego ter as nossas opiniões pré formadas e o nosso ponto de vista apoiados e validados por aquilo que consumimos, do que ver aquilo em que acreditamos e o que dizemos ser questionado, debatido e contrariado. Portanto, mantemo-nos na nossa bolha para podermos ser legitimados e enaltecidos, sem ter de confrontar a possibilidade de estarmos errados.

Zero e Infinito

Na Grécia antiga foram postas inúmeras questões. Algumas, entretanto, respondidas, outras que ainda nos perseguem. “Como é que o nada pode ser algo?”. A existência do número zero foi flutuando no início da história, dado o seu carácter abstrato. O mesmo se passa com o conceito de infinito. Enquanto seres mortais, torna-se difícil conceber algo sem limites. A imensidão do infinito e a inexistência do zero tem muitas aplicações na nossa vida, deixandonos sempre na dúvida sobre como tudo funciona. A meu ver, a morte é uma boa representação de ambos.

A morte é algo que deixa muita gente perturbada e acredito que tenha a ver com a incerteza da sua dimensão. Embora alguns acreditem que após a morte não há nada mais que um vazio, outros creem que seremos encaminhados para um paraíso ou um inferno, ou qualquer outro sítio que pressuponha a continuação da existência da nossa alma. Sempre me inseri na primeira opção. Contudo, após a recente morte do meu avô, sem qualquer aviso ou preparação, recuso-me a aceitar que a morte é finita. Talvez por egoísmo ou egocentrismo, repensei tudo aquilo que tinha como certo. Será que é mesmo um eterno nada? O que é o nada? O que é que isso significa para esta pessoa que me deixou de um dia para o outro?

A meu ver, crenças servem para nos trazer conforto e, a verdade, é que a minha passou a deixar-me inquieta. Nunca achei que fosse possível mudar de opinião tão rápido. Contudo, agora vejo a morte como uma infinita continuação da vida. Se há alguma coisa positiva que retirei deste último mês sem o meu avô, foi que uma vida bem vivida dura para sempre. Vejo o na rua, quando passa por mim um avô com a sua neta. Vejo-o no meu pai, quando se empoleira na mesa depois do jantar, posicionando os braços e as mãos exatamente como ele punha. Ouço-o na minha avó, quando diz aquilo que costumava ser a palavra favorita dele.

Ouço-o nas minhas tias, suas filhas, que tal como ele me tratam por “miúda”. Já passou um mês e oito dias, mas ainda consigo ouvir o seu riso. Não é possível que a morte seja o “nada”.

Porque isso significava que ele estaria sozinho nesse “nada”. Eu tenho a certeza de que ele está aqui, porque eu quero que ele esteja. Também o sinto quando tento ser boa pessoa e ajudar quem está a minha volta, tal como ele fez. Quando me rio e faço os outros rir. Quando aprendo ou experimento coisas novas. Se ele vive através das minhas ações então a morte não pode ser “nada”.

Nunca tinha ido a um velório, nem a um funeral, mas só o conceito me deixava triste.

Foram dois dias muito pesados. Cumprimentei toda a gente, respondi a muitas perguntas, mas sempre com a distância sanitária que impedia o toque caloroso de quem genuinamente se preocupa, e cheguei a casa esgotada. Agora, um mês e oito dias depois, não penso no cansaço físico e emocional daquelas seis horas que na altura me pareceram seis anos. Relembro as histórias que a família em segundo grau, que eu não via há anos, me contou sobre o tio João, sempre brincalhão e pronto para ajudar, que os colegas de trabalho me contaram sobre o professor João, com paciência inacabável para os seus alunos, “são miúdos, deixa-os estar” e todas as outras que eu revivi na minha cabeça.

Se o meu avô vive através da minha avó, do meu pai, das minhas tias, se ele vive através de mim, então isso não o torna imortal? Infinito? Contarei todas as histórias que me lembrar aos meus filhos, acompanhadas de fotografias e vídeos que guardarei com muito carinho. A morte não deixou de ser assustadora, mas se temos de conviver com ela, então que seja a imortalizar aqueles que queremos junto de nós para sempre.

A pressão do sucesso

Ser bem sucedido, tirar boas notas, ser o melhor aluno... estas são as coisas que são impostas a uma criança de apenas 10 anos mal põe os pés na escola.

Que os pais querem o melhor para os filhos, até aí estamos todos de acordo, mas a pressão que lhes depositam para serem o próximo Ben Carson não é de todo justo. Este peso, ao contrário do que se pensa, não é um incentivo para chegarem mais longe, aliás a única coisa que esta imposição traz às crianças é ansiedade e ataques de pânico na hora de receber os testes.

Primeiramente é importante referir que o simples facto de nos sairmos bem na escola não nos garante um futuro recheado de conquistas; não foram as boas notas a história que fizeram do Ronaldo o melhor jogador de futebol do mundo e certamente não foi a matemática que levou a Frida Kahlo a tornar-se uma pintora revolucionária. Com isto, o que pretendo realçar é que o ensino hoje em dia está muito desatualizado e não corresponde às necessidades atuais dos jovens e escusado será dizer que se foca apenas em criar futuros cientistas e doutores, deixando um ínfimo de outras áreas de parte.

Como estudante que já se encontra na faculdade, posso afirmar que já passei por todo esse processo. Chorava quando ia ter exames, tremia com medo de dizer os resultados dos testes e o simples facto de pensar na escola trazia-me uma ansia que respirar me deixava. Sempre ouvi que era um fracasso e uma desilusão. Era péssima a história e a geografia, e nas restantes disciplinas era mediana, não me destacava a nada, apenas a desenho mas do que é que isso me valia? Apenas me reencontrei quando no secundário pude escolher uma vocação e descobri o meu amor pela arte.

Juntando todos os argumentos antes ditos, temos de parar com a pressão dos nossos filhos serem os melhores da turma, isto só lhes traz um esgotamento mental e sentimentos de frustração. Em vez disto, temos de nos focar no que realmente importa: torna-los boas pessoas e dar-lhes o apoio que precisam para alcançarem os seus sonhos.

O AMOR DIACRÔNICO

Quando crianças o amor é uma palavra que não compreendemos, mesmo sendo diretamente afetados por ela. Estamos o tempo todo a ser amados, ou não, pelos nossos pais. Quando crianças vivemos o amor, mas não o percebemos ou compreendemos como quando adultos. Quando crianças, o amor é aquilo que é e o que ainda não é também.

O amor tem o poder de transfigurar o seu valor ao longo do que nós, humanos, chamamos de vida. Em alguns momentos ele surge em relações intensas que parecem nunca ter fim, até o fim chegar. Neste fim vem o sofrimento associado a este intenso amor, que parece também nunca ter fim. O amor se transfigura com o tempo. A importância e o peso que uma relação tem hoje, seguramente terá um peso e importância completamente diferente em 10 anos, quando comparada com todas as outras relações que virão e irão com este tempo. Esse fenômeno não se passa só com o amor, mas também com a dor que o acompanha e é inevitável.

Quando adolescentes ou jovens adultos descobrimos que o amor tem muitas faces, e amamos de jeitos muito diferentes cada um dos nossos amores. O Amor que sentimos pelos nossos pais, irmãos e familiares mudam e transfiguram-se tanto quanto o amor que sentimos por namoradxs, e eles também passam por essa mudança juntos, por que o que nós humanos chamamos de vida, não tem botão de pausa. Quando adolescentes a vida e o amor são vividos intensamente, como se eles estivessem com pressa de chegar a algum lugar, embora com muito receio também, um grande medo do desconhecido.

Acredito que os idosos amem de uma maneira diferente, com muito mais calma e conhecimento, sem medo do tempo que para os jovens ainda é um grande desconhecido. Eles já devem estar acostumados com o amor diacrônico, porque o devem ter vivido a vida toda, e visto diferentes relações terem seu valor transformado com a vida. Sem importar em qual fase da vida estejamos, estaremos sempre a ser impactados por este louco sentimento, mesmo que não compreendamos a si ou a suas transfigurações, seguiremos sentindo.

Uma Simbiose Humano-Tecnologia

Nos dias que correm, é difícil encontrar alguém que não possua um telemóvel ou um computador pessoal. Quer isto dizer que somos criaturas dependentes da tecnologia? Que necessitamos do apoio de aparelhos exteriores a nós para viver as nossas vidas com um sentido de normalidade? A meu ver, não se trata de precisar, ou não, de estar constantemente com a cara em frente a um ecrã, suscetíveis a estímulos que nos entretêm. De um determinado ponto de vista, no qual a continuidade to tempo e a sua existência como um todo é aceite, tudo o que o ser humano descobriu ou irá descobrir já existia previamente, incluindo a tecnologia.

O que teria acontecido caso determinadas descobertas tivessem sido feitas 200 anos antes? Estaríamos agora numa fase mais avançada do descobrimento a níveis tecnológicos? Possivelmente, estaríamos até na mesma fase em que nos encontramos neste momento. Desde a sua descoberta, as primeiras formas de media tecnológicos estimularam a sua própria evolução, numa constante análise comparativa com as suas versões posteriores. Quando foi construída a primeira televisão, a necessidade de alcançar a imagem a cores levou a que outra forma de transmitir imagens fosse procurada, um modelo de televisão que ao pé do primeiro fosse considerado superior. Mas quem impulsionou esta procura? Não foi de certeza o modelo de televisão em si que desejava ser superior, mas sim os seus criadores. Como tal, podemos afirmar que os seres humanos são responsáveis pela constante evolução da tecnologia, que sempre foi possível, mas que necessitava de algo que a impulsionasse.

Assumindo agora a perspetiva dos seres humanos na sua interação com a tecnologia ao longo do passado, qual a principal razão para a procura do desenvolvimento destes meios? Os primeiros sinais destas formas de transmissão de informação proporcionaram-nos novos meios de comunicação, a hipótese de transmitir uma mensagem de um lado ao outro do planeta em segundos e armazenamento de informação como nunca antes visto. E esta incessante procura por novas formas de inovar o que já foi descoberto ou de descobrir algo novo não parou, e pode-se até dizer que não irá parar durante muito tempo, ou até mesmo nunca.

O motivo para tal se dar é, talvez, o ciclo que se dá no desenvolvimento e descoberta. Quando o que possuímos está obsoleto, procuramos fazer um upgrade, melhorar o que está diante de nós, analisando as suas características e pensando o que poderia ser acrescentado. Ao alcançar essa versão melhorada, a nossa perspetiva é alterada, pois o que é novo passará a ser o habitual e uma nova versão, em comparação com esta, será especulada e futuramente, criada.

De um modo geral a tecnologia permitiu, desde a sua criação, uma evolução das sociedades que dela usufruem. Mas essa evolução dá-se através da evolução da tecnologia em si, que não será possível sem que os humanos se adaptem ao que já foi criado. Entramos então num ciclo: algo novo é criado, o homem habitua-se, idealiza um upgrade, ao realizar o upgrade, melhora determinados aspetos da sua vida, e habitua-se novamente ao que foi criado. Como a tecnologia depende do homem para ser descoberta e desenvolvida, mas o homem necessita desta descoberta e evolução para a poder melhorar, habituar-se a ela e idealizar novas vertentes podemos, metaforicamente, dizer que o homem tem uma relação de simbiose com a tecnologia.

Isto é, ambos dependem um do outro para desenvolverem determinadas características em si.

Votação à distância, uma boa ideia?

    A Humanidade já atingiu marcos importantes a nível de comunicação tais como enviar mensagens de áudio e vídeo para qualquer parte do planeta - de facto, até para além do nosso sistema solar - mas, em plena pandemia, ainda precisamos de sair de casa e utilizar o mesmo espaço que outras centenas de pessoas para exercer o nosso direito de voto.

  Uma votação democrática tem que garantir duas propriedades ao voto: a anonimidade e a autenticidade. Na votação física, autenticamo-nos através do nosso cartão de cidadão e a anonimidade é garantida ao juntar todos os votos numa caixa onde não é possível identificar quem o colocou lá. No entanto, caso o objetivo de um indivíduo seja manipular os votos (já entregues pelos votantes) para aumentar os votos num dos candidatos, estas propriedades em nada salvaguardam a qualidade da votação. Para garantir que os votos são contados corretamente, a contagem é feita sob a vigilância de várias entidades. Na eventualidade da corrupção por parte destas, este ataque não é escalável. Uma votação corrupta numa mesa de voto não tem um grande impacto na contagem total. 

   Todos estes passos e procedimentos servem para garantir a confiabilidade do sistema, sendo essencial e imprescindível numa votação democrática. Se o que nos faz confiar no sistema de voto atual é conhecer e acreditar no processo, o mesmo não pode ser dito a respeito da votação à distância. 

    Apesar de conseguirmos garantir a autenticidade, através da chave única que está associada ao nosso cartão de cidadão, e a anonimidade, através de algoritmos e mistura de votos, o votante comum, não consegue entender estes métodos. Mesmo que o código utilizado seja disponibilizado para consulta, apenas uma minoria da população está qualificada para o certificar. Sem saber como é que o sistema funciona, quebra-se a confiança com o votante e gera-se um problema enorme para democracia.

    Na eventualidade de toda a população conseguir entender o sistema, os ataques informáticos são muito mais escaláveis que os que são possíveis no sistema de voto atual. E não nos podemos esquecer que para enviar estas informações tão sensíveis precisaríamos de utilizar a internet, um sistema acessível por quase toda a gente no mundo e possível de interceptar de infindáveis maneiras. Comparativamente, é como colocar uma biscoito à frente de um cão, sair da sala e esperar que quando voltarmos o biscoito ainda lá esteja, intocado. 

    A votação à distância ainda é uma má ideia dado que não consegue garantir a propriedade fundamental de uma votação democrática: a confiança no sistema.



A importância da Musica na Educação das Crianças

Sinto que nos dias que correm cada vez mais a música é um ramo artístico que influência positivamente os Seres Humanos de uma forma saudável e enriquecedora.

Para além da música ser considerada uma linguagem universal, um meio de comunicação em todo o mundo, pode também ser um elemento que contribui para a aprendizagem e educação dos mais novos.

Através da música o Ser Humano vai construindo todo um processo de conhecimento, enriquecendo, a criatividade, a imaginação, a memória, a concentração; como também ajuda a desenvolver a comunicação, socialização, e afetividade, contribuindo para uma firme consciência corporal e de movimento.

Hoje em dia nas escolas, este meio de aprendizagem já é mais recorrente, o que na minha opinião, é bastante motivador e saudável para a vida das crianças. O grande concelho que os especialistas na area dão é variar no estilo, desde músicas infantis até ao Jazz por exemplo. Também a abordagem a histórias cantadas é bastante educacional para as crianças.

Já na minha família existiram casos em que a música desempenhou um papel importante na aprendizagem. Para a minha prima por exemplo, a música mudou completamente a percepção com que estudava “História”, pois na sua escola, a sua professora, ensinava a matéria através de músicas narrativas sobre os tópicos abordados em aula, o que a fez desenvolver uma proximidade maior com a matéria, aumentando a sua curiosidade de aprender novos temas.

No meu caso, fui sempre uma pessoa muito ligada à música, talvez pelo exato motivo de ter sido habituada desde muito nova a viver rodeada por ela. Lembro-me de estar no carro dos meus avós numa enorme serenidade para que pudesse escutar atentamente o CD que pedia à minha avó que colocasse. O que na maior parte das vezes seria música clássica, “As quatro estações de Vivaldi” para ser mais precisa. E como eu adorava ouvir a reconfortante sinfonia, que de certa forma enchia a minha vida de cor.

Posso dizer que estabeleci uma enorme relação com a música, e estou bastante grata pela experiência, e aprendizagem que ela me têm dado ao longo dos meus anos de vida.

Aconselho a todos a experimentarem, por momentos abstraírem se do que nos rodeia, e deixarem-se mergulhar por este mundo mágico que é a música.

Joana Silva nº

OSGEMEOS: Segredos

 Dos muros de São Paulo, passando pela Tate Modern, OSGEMEOS desembarcam na Pinacoteca de São Paulo-BR.

A exposição OSGEMEOS: Segredos teve início em 15 de outubro de 2020 e segue até 09 de agosto de 2021, na Pinacoteca de São Paulo, com curadoria de Jochen Volz. Em razão da pandemia, há um controle rígido de acesso com redução do número de visitantes. Os ingressos só são vendidos antecipadamente pelo site e os lotes encerram-se rapidamente.

Mas não só a pandemia provoca essa corrida para ver a exposição. OSGEMEOS são hoje importantes representantes da arte contemporânea brasileira, uma arte que começou na rua e ganhou notoriedade internacional pelo talento, técnica, originalidade e linguagem singular de seus trabalhos, identificáveis em qualquer lugar do mundo e pelo encantamento que provoca no espectador de quaisquer idades.

OSGEMEOS - designação que os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo adotaram para serem identificados como uma só pessoa, já que trabalham sempre juntos no mesmo suporte, são os meninos do Cambuci, bairro de classe média de São Paulo, onde mantêm seu ateliê até hoje. Na exposição Segredos contam – com os respectivos registros - que desde crianças frequentavam museus levados pela mãe e que começaram a desenhar muito cedo por influência do irmão mais velho. Aos setes anos participaram de oficina de férias para crianças na Pinacoteca. Prova de que a ação educativa em museus e a motivação da família, podem gerar bons resultados.

Quando adolescentes, nos anos 80, trabalhavam como contínuo (estafeta, office-boy) num Banco e frequentavam as ruas do centro de São Paulo, onde o movimento de música, dança e grafite do Hip-Hop estava no auge. Assim, adolescentes, skatistas, grafiteiros, dançarinos de ‘break’, formavam uma espécie de tribo no entorno do estilo Hip-Hop. Esse é o mundo que ainda orbita seus trabalhos até hoje.

Mas como os artistas mesmo dizem, no grafite a ação é outra. A arte é dinâmica. Ainda que considerarmos a rua um museu, pois pode ser, a sua visibilidade e publicidade são restritas, assim quanto mais pessoas veem a arte mais a arte precisa ser vista. Antes de OSGEMEOS, Basquiat, Keith Haring, Alex Vallauri, já haviam ultrapassado essa barreira entre a rua e a galeria.



Um mundo fictício e como este pode derrubar a vida de uma pessoa

Muitas vezes estamos em um momento de descanso e gostamos de ver uma série, um filme ou jogar algo e entramos em mundo totalmente fictícios, criados para serem daquela forma e só assim, mas se pararmos para pensar e olharmos em nossa volta começamos a notar que este tipo de mundos começam a afetar as nossas vidas e aquilo que fazemos. Por vezes, quando somos mais pequenos, acabamos por acreditar em certas coisas que acontecem nestes mundos imaginários dos jogos e filmes.

O exemplo mais comum é do relacionamento perfeito com alguém e que temos de encontrar logo o amor da nossa vida naquele momento e que a primeira pessoa em quem nos apaixonamos vai ser essa pessoa porque o que os filmes transmitem é isso mesmo mas por outro lado temos a vida real em que quando chocamos com a realidade que não é assim, ficamos completamente abalados.

Vou exemplificar um caso que aconteceu comigo, eu estive em um relacionamento de dois anos e na altura pensava que era a coisa mais perfeita do mundo e que ela era "a tal" mas ao longo do tempo vim a descobrir que eu crescia e a minha mentalidade também e ao longo do tempo apercebi-me de um problema em que parecia que a pessoa que estava comigo estava a tornar-se muito tóxica ao ponto de eu sentir-me preso e de não poder ter amigos e de não poder falar com ninguém senão ela achava logo que a estava a trocar mas como pensava que ela era aquela que era a paixão da minha vida eu focava-me apenas nela, mas só muito mais tarde apercebi-me que tinha cometido um grande erro porque com o que estava a acontecer estava a perder imensos amigos, a afastar-me da minha família e de tudo o que gostava e parecia que só vivia para ela.

 Até chegar ao dia em que sem mais nem menos ela decide desaparecer e eu fico abalado e fechava-me no meu quarto e só a queria de volta e como estávamos á porta do primeiro confinamento passei a fase do "sofrimento" sozinho sem poder estar com amigos (que já eram muito poucos). Ao longo que o tempo passava e estava sozinho no quarto fechado comecei a perceber-me do erro que tinha cometido e foi ai que percebi que o mundo em que vivemos já está muito mudado devido as coisas que vemos e comecei a pensar que muitas pessoas como eu devem ter passado pelo que passei por coisas que vimos nos filmes, porque esses sim são os maiores provocadores das mudanças no nosso mundo e na nossa cabeça.

Com isto só queria chegar á conclusão que muitas coisas estão diferentes e que temos de saber distinguir a vida real do mundo fictício dos filmes porque neles tudo é perfeito e no nosso temos de combater todos os dias a pouco e pouco para não sermos influenciados por certas coisas e ajudar sim os mais novos pois eles são os mais influenciados e ao longo do seu crescimento podem desenvolver traumas e outras coisas más devido a filmes, séries ou jogos.


P.S. - Para todos aqueles que se sentem mal devido a uma relação pensem sempre que a nossa vida vale muito mais que uma relação amorosa e que para amar a outra pessoa temos de nos amar a nós primeiro e que os vossos amigos são a coisa mais valiosa que vocês podem ter alguma vez pois é com eles que podes contar com tudo nem que seja só para tomar um café e por a conversa porque são eles que vais levar a tua vida toda.

terça-feira, 15 de junho de 2021

aos temas explorados

Referindo-me aos temas explorados nas aulas, refleti imensamente sobre os temas de cultura. Na aula quando o tema de cultura feio explorado, foi referido que a maior parte das coisas que definam uma cultura era com funções de estética.

Mas tendo dúvidas sobre este assunto por não ter concordado que as funções eram geralmente de estética, tentei abranger o meu conhecimento. Com foco nas culturas Africanas, e muito contexto histórico os uso do cabelo e função em várias tribos diferentes não eram meramente estéticos. Desde o início das primeiras civilizações africanas, o cabelo carregou uma história e um significado enorme. Os penteados eram usados para transmitir várias mensagens e faziam, bem como serem parte da identidade de um africano. Já no século 15, diferentes estilos podiam indicar vários fatores da vida de uma pessoa, como o estado civil dessa pessoa, idade, tribo, religião, identidade étnica, riqueza e posição dentro da comunidade. O cabelo era um identificador da clã ao qual alguém pertencia e o estilo só era confiado aos parentes por medo de que os inimigos trouxessem má vontade à pessoa. O cabelo até era considerado divino e também como um portal para os espíritos passarem para a alma, já que é a parte mais elevada do corpo, então para alguém tocá-lo é preciso ser fiel a pessoa. Estes fatores mencionados tem como objetivo mostrar que fatores que distinguem culturas têm mais funções do que só se sobre estética. Esta pesquisa e reflexão do tema também cedeu para outro tópico que é a relação e função do cabelo negro pós-colonização, porque evidentemente que o Cabelo Negro não tem a mesma função como no passado mas na comunidade negra a muito importância na questão do cabelo. É importante notar que durante a colonização dos países africanos, dizia-se, que os colonizadores ficaram inicialmente intrigados com a complexidade dos penteados dos povos africanos. No entanto, quando o comércio de escravos no Atlântico começou e os africanos foram levados à força para as Américas no início de 1600, os captores e vendedores de escravos e raparam a cabeça de todas as mulheres, homens e crianças africanas. O objetivo reivindicado para esta ação era aparentemente por razões sanitárias, para evitar o transporte e a propagação de germes e insetos. No entanto, a ação de rapar a cabeça era uma forma de apagar a identidade, eliminar a sua conexão com sua cultura. Por causa da importância cultural e espiritual do cabelo para os africanos, a prática de ter a cabeça raspada involuntariamente antes de serem vendidos como escravos era em si um ato desumanizador. A cabeça raspada foi o primeiro passo que os europeus deram para apagar a cultura africana e alterar a relação entre o africano e seus cabelos.

Isto deu resultado o como a comunidade negra trata o seu cabelo e como a sociedade também vê o cabelo negro. O mundo moderno progrediu em muitas coisas, mas ainda está repleto de leis e regulamentos, bem como normas sociais que igualam "negritude" e as características físicas associadas, por exemplo, pele escura, cabelo crespo e encaracolado a um emblema de inferioridade, por vezes sujeita a um tratamento separado e desigual. O profissionalismo esteve, e ainda está, intimamente ligado aos traços e maneirismos europeus, o que implica que quem não se enquadra naturalmente nas normas eurocêntricas deve alterar a sua aparência, por vezes drástica e permanentemente, para ser considerado profissional. No mundo ocidental, o cabelo com textura afro tem sido historicamente tratado de uma forma negativa. Este tratamento do cabelo Negro no mundo moderno afetou negativamente a comunidade Negra de várias maneiras, como inseguranças no cabelo, intimidação e desemprego devido às aparências.

Até mesmo escolas em muitos países, incluindo países africanos, têm leis e regulamentos contra cabelos negros. Esse assunto do cabelo tem sido descartado como um assunto irrelevante para muitos, mas o policiamento do cabelo Negro vem acontecer há séculos. O cabelo deve ser tratado como uma questão política porque ja é politizado há anos, o cabelo Negro tem sido um tópico de discussão política e, às vezes, sob ataque dos sistemas jurídicos, portanto, o cabelo Negro é política que devia ser um tópico importante para discutir. Por fim, o cabelo negro nos tempos atuais sim tem uma função estética mas também a um respeito e tratamento to cabelo que vai alem das aparências. Agora a comunidade negra está a ter um tratamento do cabelo como os seus antepassados, o tratamento e as funções não são iguais mas a importância e a mesma, o cabelo negro agora pode não comunicar e ser usado para identificar uma pessoa como parte de uma cultura mas específica mas o cabelo negro ainda faz parte da identidade de uma pessoa negra, e agora a mais amor próprio com a textura do cabelo ou ate penteados.

A integração do inglês nas gerações mais recentes em Portugal – a minha experiência

 

Há cerca de 4-5 anos comecei a deparar-me com algumas situações daquelas de que muita gente tem de vez em quando, de quando quero descrever algo, mas não me consigo lembrar da palavra correta para o fazer, mas o mais estranho e também aquilo que me chamou mais a atenção foi de que em muitas dessas situações, a palavra para descrever essa mesma coisa em inglês vinha-me à cabeça automaticamente, o meu problema era depois a tentar dizer o mesmo em português.

Isto começou logo a deixar-me curioso na altura. Sendo eu Português e a minha língua principal ser português (pois nunca tive razões enquanto crescia, pelo menos até cerca do 7º ano, 8º ano, para me familiarizar com outra língua, à exceção da escola), pois a minha família no geral fala toda português, porque estaria eu a começar a ter o inglês pré-programado na minha cabeça de tal ponto a que me vem à cabeça primeiro as palavras para descrever algo, em inglês, do que em português?

Digo 7º/8º ano, pois foi por volta dessa altura que comecei a navegar mais na internet, pelo menos no que toca a sites internacionais e onde comecei a interagir mais com conteúdo feito por pessoas que estavam a falar inglês. Fosse este conteúdo, vídeos no Youtube, Instagram, Facebook,  jogos, video streaming, filmes, séries, a verdade é que era muito se não quase tudo em inglês, logo naturalmente comecei a interagir mais com esta língua, sendo que o conteúdo que me começou a interessar nessa altura, e me foi interessando até aos dias de hoje era apresentado dessa forma.

Ao pensar nisto, por um lado fico contente, pois ajudou-me a desenvolver uma certa confortabilidade com uma língua diferente da minha que provavelmente não teria caso não tivesse tido este conteúdo em inglês, quase “forçado” para cima de mim. Seguindo apenas o currículo escolar das aulas de inglês não seria a mesma coisa, nem de perto, por muito bom ou mau que seja, não chega ao nível de realmente interagir com o inglês diariamente/ constantemente.

Por outro lado, comecei a reparar nesta incapacidade de me lembrar das palavras em português e apenas em inglês cada vez mais nos últimos anos e isso começou a deixar-me preocupado. Por muito que aprecie ser capaz de falar outra língua confortavelmente e fluentemente, não quero perder o contacto com a minha principal, aquela com que cresci. Isto deixou-me a questionar se mais pessoas sentiriam isto, principalmente na minha faixa etária e mais novas, desde que a internet cresceu como cresceu, pode-se dizer que há uma certa falta de interação com o português (penso eu), que a meu ver, é crescente ao longo dos anos, ao ponto de se começar a sentir que estamos a esquecer o português e a substitui-lo por outra língua, neste caso inglês, no nosso cérebro.

Quando comecei a reparar mais nestas questões e comecei a ficar preocupado com elas, pus-me a pensar no que poderia fazer para parar este processo ao qual eu atribuí a culpa à falta com o contacto com a língua portuguesa que tenho vindo a ter nos últimos anos. A ideia que me chamou mais à atenção e à qual eu acabei por me agarrar mais foi mesmo começar a ler mais livros (em português, claro). Isto veio de eu estar a pensar na altura em que era mais novo e quando não sentia esta falta de contacto, do que fazia diferente na altura e lembrei-me que lia imensos livros.

O meu plano a partir dessa altura, há cerca de uns 2-3 meses atrás tem sido, portanto, voltar a ler livros, conforme a disponibilidade que tenho.

A sensação que tenho tido até ao momento é de que realmente está a ajudar, não sei se muito o pouco, mas que está a ajudar, está e isso para mim é suficiente.

Pensando bem no assunto faz sentido, ao ler um bocado todos os dias, estou a forçar o contacto com o português mais um bocadinho do que antes e se conseguir forçar-me a continuar a fazer isto, eventualmente tornar-se-á um hábito que me está a ajudar neste objetivo.

Diria que esta seria uma boa maneira de ajudar quem sentir que está a passar pelo mesmo tipo de situação que eu.

Estou curioso para ver, como me sinto daqui a 6 meses em relação a este mesmo tópico, se será que já me sinto completamente à vontade com isto e se já não sinto a mesma dificuldade em lembrar-me de palavras em português. Se for capaz de já não sentir esta dificuldade e ao mesmo tempo manter a confortabilidade que tenho com o inglês diria que então foi um objetivo cumprido e que me deixará feliz por o ter concluído.

Narcisismo

 

Narcisismo: Qualidade de quem gosta de ou admira exageradamente a sua própria imagem.

É curioso pensar sobre a definição de narcisismo nos dias de hoje. Ser narcisista, ou egocêntrico, significa literalmente gostar exageradamente da nossa própria imagem, de nós mesmos. A verdade é que isso não passa despercebido. Somos todos narcisistas a partir do momento em que publicamos uma selfie nas redes sociais. Não vale a pena tentar disfarçar esse facto, ou fingir que nunca publicámos nada disso quando sabemos perfeitamente que uma vez publicada na internet, nada desaparece, mesmo se clicarmos no botão que diz "apagar". Só porque apagaste todas as selfies que tiraste em 2015 quando só tinhas 13 anos, não quer dizer que deixaste de ser narcisista. Vai ver as tuas redes sociais. Talvez não tenhas lá selfies, mas de certeza que publicaste pelo menos uma fotografia de uma paisagem. Podes pensar que só a publicaste com o intuito de partilhar a natureza e a beleza do mundo com os teus amigos. Mas será que nenhuma parte de ti, por muito pequenina que seja, publicou aquilo para gritar aos quatro ventos que "esteve ali"? Partilhas nas redes sociais um trabalho que fizeste e do qual te orgulhas. Todos os teus amigos comentam a publicação, a dizer que és fantástico, super criativo. Enchem os teus comentários de emojis que demonstram o seu apoio e admiração. Mas será que publicaste o trabalho só porque tinhas orgulho dele? Ou porque sabes e queres que os outros saibam que és "muita" bom? Somos todos narcisistas, até um certo ponto. E isso faz bem, é saudável. Mas é interessante pensar que, apesar de sermos todos narcisistas, também nos odiamos. Sim, é verdade que uma coisa não pode coexistir com a outra. Mas será que não pode mesmo? Quantas vezes publicaste uma selfie e a apagaste logo de seguida porque não tinha likes suficientes? Quantas vezes é que em 2015, quando só tinhas 13 anos, publicaste uma selfie com filtros que mudavam radicalmente o teu rosto, rezando para que ninguém reparasse que estavas completamente diferente. Quantas vezes é que te atiraste para a cama a chorar, depois de teres sido obrigado a publicar a fotografia de uma paisagem, porque as fotografias que lá tiraste de fato de banho mostravam toda a gordura que não querias que vissem? Quantas vezes partilhaste um trabalho que odiavas, mesmo depois de teres passado noites em branco a fazê-lo, só porque precisavas desesperadamente que alguém te dissesse o quão bom e criativo eras?

Claro que és narcisista. Mas para dizer a verdade, nestes dias é melhor sê-lo do que não o ser.


O sucesso dos super-heróis

O texto a seguir é uma reflexão baseada em diferentes pontos de vista compartilhados em um diálogo cotidiano.

Em meio a uma conversa entre amigos surgiu o seguinte questionamento: Por que o universo dos super-heróis é tão bem sucedido? Sabemos que a temática heróis é abordada em diversos formatos e, independente de como a consumimos, está sempre presente na cena da arte e afins, mas por que? O que faz com que esse tema em específico esteja constantemente em alta? Por que nos sentimos tão atraídos por consumir esse nicho de conteúdo?

O primeiro ponto que tocamos foi o da idealização de algo que não podemos ter ou ser. A idealização não só dos superpoderes em si mas da representação do protagonista como um ser humano (ou uma figura semelhante a um humano) ¨melhor¨, ou seja, com capacidades além das que nos são atribuídas enquanto seres humanos, e assim ironicamente afastando-se da própria condição humana que nos aproxima dessas figuras. É a ambição e desejo do homem de ter e ser mais, sempre.

Junto dessa idealização vem a identificação. A identificação de si em um personagem é comum em qualquer tipo de conteúdo, e nesse caso o peso é grande por conta da tal idealização, ou seja, as pessoas querem se identificar com aquele personagem por ele ser um super-herói e ao nos identificarmos com qualquer característica que seja nos aproximamos dos seus superpoderes. Com isso, entra o narcisismo do ser humano, se enxergando naquele personagem e vendo-o (e a si) como ¨O salvador¨, ¨O único¨, ¨O herói¨.

No entanto, o ponto que mais me chamou atenção foi a relação com as mitologias e religiões que existem há séculos. Como essa martirização de uma figura sempre existiu e o que chama tanta atenção para esse universo de super heróis é justamente a quebra na perfeição delas, similar ao que acontecia nas mitologias gregas e nórdicas, por exemplo, que tinham os deuses como seres falhos apesar de suas características ¨superiores¨ e heroicas, e ao contrário da religião católica, por exemplo, que tem a figura divina como absolutamente perfeita e livre de qualquer fragilidade, a vulnerabilidade de cada herói e principalmente os momentos de falha em que os mesmos mostram-se imperfeitos seriam, nesse raciocínio, a chave para a aproximação do público para com esses personagens. No cinema em geral a vulnerabilidade é algo que aproxima muito o telespectador dos personagens e com isso da obra em si, mas a força disso em um cenário onde o personagem é tido como um deus (figurativamente e por vezes literalmente) é infinitamente maior e fascina o público, permitindo que as pessoas se assemelhem com os heróis pelos problemas e falhas deles, assim voltando a identificação e idealização apontados anteriormente.

Quem sou eu

Qual é o meu propósito na vida? É uma pergunta que me questiono várias vezes e que mais 7 biliões questionam também no seu dia a dia. Penso que faz parte da natureza humana querer ter um objetivo, um rumo por onde navegar, ter algo em que acreditar e que dê esperança. Mas o problema que se se impõe na maior parte das situações, é não ser aparente qual a nossa missão na vida, pois a meu ver antes de saber esta resposta, devemos saber quem somos primeiro.

Segundo Daniel Gagliardo nós somos não o nosso corpo, mas a nossa alma, que provém de um espirito que viaja pelo cosmos, que a certa altura tem a vontade de encarnar numa vida na terra. Somos compostos por um corpo físico, um corpo emocional e um corpo mental, e são estes três campos que formam uma encarnação. A alma controla o corpo através do ego, que é a extensão da alma utilizada para interagir com o mundo físico. Faz todo o sentido pois se pensarmos no assunto nós conseguimos interagir com o mundo físico apenas através de 5 sentidos e como sujeitos somos muito mais que isso. No fim de cada vida, o corpo e a alma dissolvem-se, e passado o tempo que for preciso o espirito volta a encarnar e assim sucessivamente. O facto de existirem sujeitos que nascem com um talento natural para isto e aquilo, mostra que o mais provável é já terem tido experiencia com essa área numa vida anterior.

E assim cada alma encarna com uma missão a cumprir, por vezes kármica ou seja, em busca de equilibrar as energias perante acontecimentos de vidas passadas, seja recebendo os frutos provenientes de ações altruístas ou pagar por ações menos corretas, sendo que a vida se encarrega de manter esse equilíbrio. Acontece até no seguimento disto que, as almas quando encarnam, escolhem a família em que vão nascer, isto por apresentarem determinadas características perfeitas para melhor realizarem os seus objetivos, por vezes vindo até em prol de auxiliar a família por exemplo.

Tendo em conta este raciocínio, torna-se plausível que um acontecimento trágico nas nossas vidas tenha acontecido por termos em vidas passadas realizado algo de igual gravidade e esta é uma questão que me intrigou particularmente. É difícil pensar e aceitar que numa vida passada fossemos capazes de realizar certas ações, tendo em conta que na vida presente seria contra os nossos valores e princípios e custa-nos a acreditar que tenhamos feito algo de uma tal natureza. Daí eu pergunto-me, se apesar de partirem todas do mesmo espirito, mas sendo consciências diferentes, todas as nossas vidas são ramificações da mesma árvore, ou acabam por ser árvores distintas? Se é que me faço entender. Porque se não conseguimos controlar o que fizemos em vidas passadas e não tendo as mesmas crenças e práticas que nessas vidas, seria justo “pagarmos” por atos que não praticámos?

A verdade é que este pensamento não é o correto. De um perspetiva espiritualista, não faz sentido falar de culpa, pois não somos culpados mas responsáveis pelos nossos atos. Se virmos a vida de uma perspetiva ampla, percebemos que já existíamos antes e que cometemos erros e acertos a toda a hora e que esses geram resultados - “Nós não pagamos pelos nossos erros do passado – não se trata de pagamento porque não se trata de dívida. Mas todos os nossos atos geram consequências.” - Morel Felipe Wilkon. A vida é aprendizagem, e aprende-se seja pelo o amor, seja pela dor. E por isso é necessário por vezes aprender certas lições de formas não tão agradáveis. Por exemplo um sujeito que não valorize pessoas próximas, vê-se reencarnado numa vida em que se vê dependente dos outros, por exemplo gerindo uma empresa onde necessita de coordenar e contar com outros para realizarem o seu trabalho, ou outro exemplo não conseguindo ser autossuficiente e necessitar de ajuda. Mas sendo assim, como é que vou perceber o que é que tenho de melhorar nesta vida face as anteriores se não recordo as vidas passadas? Como saber qual o meu propósito nesta vida e porquê? Se pensarmos bem, desde sempre que tomamos determinadas decisões e temos determinados comportamentos, tudo influenciado por fatores exteriores a nós, como por exemplo a astrologia, e como por exemplo a nossa infância. Portanto, nós somos de facto regidos por coisas de que não nos lembramos, e não é por isso que deixam de lá estar . É que nem de tudo o que fizemos no ano passado nos lembramos e no entanto afeta-nos a toda hora! Aprendemos com essas experiências. E o mesmo acontece com as vidas passadas. Apesar de não recordarmos os acontecimentos, o conteúdo desses conhecimentos continua em nós, e isso está tudo armazenado em nós, que somos um ser único imortal. Geralmente as pessoas não percebem este conceito pois pensam, eu sou a Maria não tenho de pagar pelos erros de uma Joana que fui noutra vida. Mas a pessoa não foi a Maria ou foi a Joana mas sim esteve a ser Maria e esteve a ser Joana. Este raciocínio fez bastante sentido pra mim.

Eu pessoalmente considero ainda ser muito nova para saber a 100% (se é que alguma vez se sabe a 100%) mas neste momento eu sei o que quero para mim e o que quero trazer ao mundo. Sei que nasci para trazer conforto e entretenimento as pessoas, através da minha arte, e o meu maior sonho é poder fazer parte de projetos que provoquem emoções e que toquem quem os encontra. É esse o meu principal objetivo, porque sei que é para isso que nasci. Não sou boa a conduzir, não sou boa a matemática, sou muito distraída e desastrada, mas, sei que tenho qualidades e capacidades que me permitem fazer o bem, e não fico frustrada por não ser boa em tudo, tenho consciência das minhas limitações e dos meus pontos fortes e através disso dou o meu melhor em focar-me no positivo e não no negativo. Penso que as pessoas se prendem demasiado a coisas que não interessam e que lhes prestam demasiada atenção, quando deveriam investir a sua energia naquilo que as faz feliz e no que só elas podem trazer ao mundo.

Neste seguimento, toda a minha vida sempre fui muito forçada a fazer o que os outros queriam que eu fizesse, predominantemente por parte dos meus pais, em particular o meu pai que me deu sempre pouca liberdade para atuar pelos meus desejos. E ao longo da minha vida têm vindo a passar sujeitos da mesma natureza, como o meu irmão mais velho, amigos, professores e etc. Tenho assim vindo a perceber que uma das aprendizagens principais que tenho de realizar nesta vida é perceber como agir face a essas situações e conseguir ser independente e ter a minha própria voz enfrentado figuras de autoridade em vez de me

rebaixar. Para além disto, A minha mãe sempre teve problemas de autoestima e ansiedade e de ver a vida muito negativamente, e eu sei que tenho sido um pilar na vida dela para lhe tentar mostrar as felicidades que a vida já lhe trouxe e etc e por isso penso que talvez tenha nascido filha dela também por esse propósito. Quanto ao meu pai talvez ele tivesse de perceber que nem tudo está ao controle dele e que tem de me deixar fazer as minhas escolhas, mesmo que lhe custe não ter o controle de tudo. No entanto vou de certeza descobrir mais desafios ao longo da minha vida, e espero-os com as mangas arregaçadas. Impressiona-me o mundo de conhecimento, emoções, pensamentos que estão presentes em cada pessoa. Temos muito a aprender com tanta gente e é triste que por vezes nos encontremos num mar de estranhos e pensar que nunca mais veremos nenhumas daquelas caras e o quanto podíamos aprender. O ser humano é realmente uma obra de arte, com os seus defeitos claro, mas afinal a beleza está na aprendizagem e evolução, e no facto de cada um ser especial e poder trazer algo ao mundo. Apesar de toda a maldade no mundo tenho muita fé na humanidade, e se poder melhorar a vida de alguém, fico contente por isso.

Assim para concluir, para mim o nosso propósito na vida tem que ver com as aprendizagens que temos a fazer naquele momento da nossa viagem eterna, aprendizagens essas que só descobrimos estando atentos e escutando o nosso eu interior, percebendo que somos parte do universo, que temos um papel a realizar que só nós podemos realizar, e que nada acontece por acaso, e daí para a frente, é viver a vida da maneira que acharmos melhor.

“You are not a drop in the ocean. You are the entire ocean in a drop.”- Rumi.

Viver no interior é melhor do que parece!

Este tema veio-me à cabeça num dia em que estava a ler uma notícia sobre um projeto que o Município de Bragança criou, Projeto Bragança - Liberdade para Recomeçar, que convidou quatro famílias que pudessem trabalhar de forma remota durante um mês para o seu município com alojamento gratuito e com todas as comodidades para garantir qualidade de vida e a possibilidade de trabalhar remotamente.

Sendo natural do interior do país, este tema é me bastante próximo porque é bom ver que se cria incentivos para se contrariar o êxodo rural. Como sempre vi no interior uma forma de viver diferente, onde me sinto bem e onde a qualidade de vida é muito superior à qualidade de vida das grandes cidades é bom ver que o paradigma está a mudar e que a procura pelo interior está a aumentar dia após dia.

Foi quando me desloquei para Lisboa para entrar na Universidade que comecei a valorizar ainda mais a forma de viver no interior e tive a necessidade de me adaptar a um ambiente totalmente oposto ao que estava habituado, onde a paz e o sossego desapareceram, onde o sólido sentido de comunidade em que há um grande espírito de entreajuda deixou de existir. Senti que a minha qualidade de vida baixou e muito, sempre estive habituado à liberdade que o campo me proporcionava através de desportos de natureza como o BTT e o Trail Running, e de repente vi-me obrigado a correr no meio da cidade sem ter a liberdade que antes tinha e sem ter o privilégio de desfrutar de paisagens únicas como até aqui desfrutava. Mas a pandemia trouxe-me de novo uma vida no interior, onde me senti muito mais seguro e me senti bastante privilegiado de poder estar num lugar sossegado com uma qualidade de vida muito superior, junto da minha família e ao mesmo tempo continuar a estudar e realizar tudo o que antes realizava, mas agora de forma remota. Como eu existiu milhares de pessoas no país inteiro.

A pandemia veio dar aquele empurrão que faltava para que a população a viver no interior aumentasse, devido à possibilidade de teletrabalho, que para muitos vai permanecer derivado à natureza das suas profissões, aos incentivos que alguns municípios dão para que a população se fixe e também devido aos incentivos que são dados para que se crie postos de trabalho, são exemplos de um bom começo para que o interior não fique despovoado e comece a ganhar uma nova vida.

São muitas as vantagens de viver no interior, desde do ambiente sossegado e pacato, um custo de vida mais baixo, um sentido de comunidade único, maior segurança e uma maior qualidade de vida, mas como tudo, também tem as suas desvantagens, como menos ofertas de emprego, ausência ou reduzida frequência de transportes, menor oferta cultural. No entanto, é cada vez mais notório o trabalho realizado em diversos concelhos do interior para contrariar estas desvantagens e melhorar qualidade de vida de quem habita e de quem pretende habitar estas regiões.

Foi também, devido à pandemia, que o turismo do interior teve uma maior procura e um maior crescimento, porque permite fugir dos grandes centros urbanos e evitar grandes aglomerações proporcionando um ambiente mais seguro e ao mesmo tempo uma experiência única de contacto com a natureza. E mais uma vez esta procura pelo turismo no interior fez com que muitas famílias acabassem por se fixar após terem visitado certas regiões e consequentemente levou à criação de novos postos de trabalho e a um maior desenvolvimento destes territórios.

Concluindo, "interioridade é sinónimo de qualidade".

Críticas à democracia

Na sua obra “Da democracia na América”, Tocqueville aponta a igualdade como a paixão dominante numa democracia. Ora, igualdade não é uma simples equivalência de bens ou direitos, mas sim uma igualdade mais elementar. Tocqueville fala sobre uma igualdade cultural na qual um pedreiro é igual a cientista. Assim, no seguimento desta aspiração, surge um favorecimento do individualismo. Por individualismo entenda-se um afastamento voluntário do indivíduo em relação ao todo. Isto é, um confinamento a um nicho. Tocqueville verifica isto no seu palco de estudo, a América do séc. XIX, a primeira democracia moderna.

Naturalmente, o individualismo constrói uma sociedade separada, na qual o Homem cultiva uma mentalidade autônoma. O destino passa a estar, portanto, nas mãos de cada um. Se, apenas com a sua razão, o indivíduo sente que consegue resolver os seus problemas quotidianos, empregará somente o uso da razão para resolver problemas de maior escala. Em último caso, rejeitamos qualquer tipo de conhecimento que nos seja incutido por forças exteriores, por estarmos tão isolados. A capacidade de transmitir conhecimento ao longo de gerações que tanto nos diferencia como homens, deixa de ter uso. Estamos demasiado fechados na nossa esfera pessoal e rejeitamos por completo o costume e a tradição que, em parte, formatam o nosso caráter.

Tocqueville reconhece também o papel que a igualdade desempenha na desvalorização da autoridade. Todos passam a ter o mesmo direito à opinião, mesmo que não saibam nada sobre aquilo que defendem. Torna-se, por isso, impossível acreditar na palavra do outro quando temos tanto orgulho em possuir uma opinião própria. Contudo, no momento em que o Homem se depara com a enormidade da multidão, ganha consciência da sua pequenez e sente-se obrigado a adotar a opinião da maioria. Aquilo que é determinado como sendo verdadeiro passa a depender de uma juízo feito pela multidão; a verdade passa a ser aquilo que a multidão determina como sendo verdadeiro.

Consequentemente, nascem coisas como a cancel culture hoje vivida nos Estados Unidos. A multidão divulga a sua opinião e as suas palavras são lei, ninguém consegue fazer frente. Por tomarmos como garantido que a multidão está certa, não pensamos por nós mesmos, não nos desenvolvemos, não procuramos, não aprendemos. Tornamo-nos num grupo de corpos amorfos que se deixam levar pela opinião maioritária.


Para além disso, todos podem opinar e acham que sabem tanto como o próximo devido a existência de uma igualdade quase perfeita. Talvez isso explique o que estamos a viver agora com a pandemia: qualquer pessoa acha que sabe mais que um médico experiente e aposta no seu mínimo conhecimento na matéria para formular a sua opinião e levar outros atrás. Por acharmos que somos todos iguais, achamos que merecemos ser todos ouvidos da mesma maneira e que temos o mesmo valor, independentemente do que a realidade nos diga. Esta é uma explicação possível para o facto de múltiplas pessoas teimarem com a vacinação.

De facto, é curioso como reflexões feitas há tanto tempo atrás, se verificam hoje. Reflexões sobre a maneira como a democracia afeta a maneira de ser do homem, individualmente ou em contextos comunitários; sobre a maneira como ideologias evoluem e afetam o mundo em redor de maneiras inesperadas. Afinal de contas, o mundo não muda assim tanto.

A bagagem da vida

Pesa muito sobre as nossas costas a vida vivida?

Será que o idoso que se cruza connosco de olhos postos no chão arrasta o peso do passado?

Neste caso, as costas curvadas serão muito mais o regresso à terra do ser que um dia nasceu.

Não há uma lei que determine qual é o peso do passado, no presente de cada individuo. Isto porque, nem todos os passados são iguais e nem todos os indivíduos trazem com eles a vida que ficou para trás.

Há passados insípidos que na sua aparência não deveriam deixar marcas pesadas na bagagem de certas vidas. Por outro lado, há passados intensos, que apenas acrescentam valor ao presente de cada um de nós.

Uns e outros coexistem, por vezes, na mesma pessoa. Será isto a chamada experiência da vida?

E essa experiência resulta do onde, quando e porquê nascemos?

É costume dizer-se que os velhos trazem a sabedoria do mundo.

Não há certezas sobre isso, porque as sociedades patriarcais representam muitas vezes, formas retrógradas de organização social.

Ser velho, não pode ser um horizonte fechado com o desconhecimento das mensagens dos que chegam agora.

Todos nós trazemos nos vários períodos das nossas vidas, a bagagem da vida, sendo que ela não será sempre um capital a utilizar no futuro.

No entanto, o sofrimento, as dores, a ilusão de um mundo virtual podem constituir a solução dos erros que não se repetem. Claro, que se repetem.

Há teses de psicólogos que defendem que os chamados traumas de infância são apenas uma justificação para a incapacidade de enfrentar os problemas do presente.

Contudo, prefiro acreditar que somos uma estratificação dos atos e acontecimentos do dia a dia.

O passado não existe se for apenas um espaço e um tempo parado como um pântano. O passado deve recusar o saudosismo lacrimejante e olhar para o presente e para futuro.

Esta minha reflexão é essencialmente o levantar de questões que estou muito longe de saber responder.

Talvez um dia, quando a bagagem da minha vida me pesar sobre os ombros.


Efeitos do isolamento durante o período de pandemia

 

    Quando o isolamento começou não estava à espera que acabasse por sofrer tantas consequências psicológicas de estar tanto tempo sozinho. Foi um ano muito complicado a nível emocional, que me fez abrir os olhos para uma noção de insignificância enquanto ser humano no mundo e de desprezo e falta de importância na vida dos outros.

    Quando a pandemia chegou a Portugal ainda estava a meio do décimo segundo ano e a escola acabou por mandar os alunos todos para casa para entrar no regime online, as atividades foram todas canceladas e a viagem de finalistas que toda a turma ansiava à 3 anos tinha sido cancelada. Mal sabia eu que o isolamento estava só a começar. O ano terminou e ainda tentei ter um verão minimamente normal, mas com o governo a impor novas regras e com as notícias dos danos e propagação do vírus acabou por se tornar uma atitude irresponsável reunir-me com os meus amigos que já não via a uns meses. 

    Para mim a situação agravou-se no início da faculdade, entrei para a Faculdade de Belas Artes sem conhecer praticamente ninguém. Chegou a haver um período de aulas presenciais onde acabei por conhecer alguns colegas da turma uma vez que íamos todos almoçar ao refeitório e acabávamos por ter algum tempo para conversar. O problema surgiu quando o número de casos aumentou e a faculdade passou para regime online, e devido a este distanciamento físico sentia que o contacto com os colegas diminuía e que não tinha tido tempo para formar qualquer tipo de relação com o resto da turma.

    Cheguei a um ponto em que os meus amigos do secundário começavam a desaparecer, e achei curioso que só aqui é que realmente percebi que os verdadeiros amigos que continuavam a falar comigo eram uma minoria mas mesmo com tantos obstáculos como por exemplo uma mudança de ambiente e uma pandemia continuavam a lembrar-se de mim. Esta filtração acabou por me afetar um pouco porque não tinha compensado com amizades na faculdade até então. Sentia-me que tinha ficado perdido no meio da ponte de transição sozinho.

    Por outro lado, o isolamento ajudou-me a organizar na minha cabeça a minha lista de prioridades e filtrar o que não me interessava. Foquei-me nas pessoas que estiveram presentes quando os outros desapareceram e deixou-me muito feliz aperceber-me da presença desse grupo de meia dúzia de amigos valia mais do que aqueles com quem passava tanto tempo no passado e na verdade não tinham o mínimo impacto na minha vida. 

    Concluo acrescentando que finalmente voltei a estar com colegas da turma da faculdade e que sinto que têm tido um impacto muito positivo no meu bem-estar e que sei que sempre que estou com eles posso contar com um ambiente muito divertido. Estou com esperança que o próximo ano já consiga voltar a normalidade porque me apercebi que não lido nada bem com a solidão e sinto-me bem no ambiente da faculdade rodeado por toda aquela boa disposição.


Зеркало e a estética do Belo

O belo, segundo Kant, é um fenómeno estético, exclusivamente humano, de capacidade de julgar e apreciar algo mediante uma satisfação independente de qualquer interesse ou conceito que respeite essa afirmação, defendendo um caráter não determinado do juízo estético. É um movimento que têm efeito na nossa imaginação e entendimento, é, assim, uma experiência puramente contemplativa, para a qual é necessário suspender os interesses sensíveis e racionais. Esta estética é assim dívida entre o belo clássico e o belo romântico, porém, não é esse o tema que se ira abordar aqui, mas sim, uma apreciação estética do filme Зеркало (Mirror).

Зеркало, é um filme de Andrei Tarkovsky de 1975. Trata-se de um filme de caracter autobiográfica com uma estrutura original e não linear, que incorpora mudanças de cena entre o presente e o passado, apresentadas através da imagem a cor, como também preto e branco. Incluindo poemas realizados pelo pai de Tarkovsky, é um filme com recurso ao áudio sem uso de banda sonora. A escolha da palavra Mirror, vai marcar e propor a ideia e a visão de duas narrativas na visualização deste filme, apresentando assim duas vertentes: a do realizador e a do espetador, sendo esta última diferente para cada individuo, porém, irá sempre observar, interpretar e contruir uma narrativa ao longo do filme. É necessário apontar que, a ideia de dupla narrativa pode não ter sido algo proposto ou trabalhado pelo realizador intensionalmente.

Neste filme podemos visualizar uma linha cronológica do antes da guerra, guerra e pós-guerra, sendo uma obra que projeta a infância de Tarkovsky e as suas memórias desde da evacuação para o espaço rural, durante a guerra em 1935, a ausência do pai e o tempo que era apenas ele, o irmão e a própria mãe.

A figura da mãe é um dos principais sinais de passagem de tempo que primeiro observamos, sendo esta na cena da casa de banho, onde temos esta personagem com o cabelo molhado a tapar-lhe o rosto, como se fosse uma cortina, que remete para um tempo antes da guerra onde o marido ainda estava com ela, acompanhado pelo o momento onde o cabelo é movido para trás, deixando o rosto a vista e mostrando a ideia do tempo de guerra. É a partir deste momento, da mãe numa toalha a olhar para o espelho, que observamos a passagem do tempo, pois é visível o envelhecimento da jovem mãe para uma senhora mais velha, remetendo para um amadurecimento físico, como também psicológico.

Durante os primeiros minutos, é nos apresentando um jovem gago que diz “я могу говорить” (I can speak) e é possível, dependendo de individuo para individuo, fazer uma relação com o aspeto do espelho utilizado e referenciado ao longo do filme, como a maneira em que o filme é o meio que mostra e conta a história que Tarkovsky quer mostrar. Sabendo o carácter deste filme e a própria frase citada acima, podemos apontar este filme como uma obra de tempo e conservação do mesmo, sendo uma obra que visa representar e preservar as memórias do realizador, invocando a seguinte frase presente no filme que é “Words can’t express everything a person feels”, na maneira como este filme é uma forma do realizador se expressar para além das palavras e de assim falar para os demais, ou seja, “я могу говорить”.

A apreciação deste filme no campo do belo, leva a sua contemplação e ao respeito puro pelas formas e a maneira como o filme é realizado. Esta é uma obra onde simplesmente ignoramos os nossos interesses e construímos o nosso belo, um belo que é diferente para cada um e para cada leitura deste filme. É um belo que deixa de ser uma qualidade inerente e que passar a ser algo que serve como algo de prazer de qualidades que suscitam aos espetadores e que no fim geram o belo como uma representação com uma finalidade e sem fim. 

Capitalismo de vigilância

 

Sorria está a ser vigiado!

Acho que todos já ouvimos ou lemos esta frase em qualquer loja ou estabelecimento comercial e até sorrimos para a câmara quando isso acontece. O que nos devia preocupar é quando nos estão a vigiar sem sabermos, a tirar apontamentos de tudo o que escrevemos, pesquisamos ou comentamos apenas porque aceitamos políticas de privacidade em sites que muitas vezes nem sabemos os que estamos a aceitar.

As grandes empresas de tecnologia, tal como a Google, Microsoft, Facebook e Amazon têm um negócio muito próspero com a nossa base de dados. Para temos noção, a valorização destas empresas ultrapassa os biliões de dólares e a empresa que detém a Google atingiu um valor de um trilião de dólares em 2020. Isto porque nos últimos vinte anos a recolha e tratamento dos nossos dados foi feita sem regulações relevantes, o que permitiu a estas empresas vendê-los para melhorar a publicidade que nos é imposta no dia a dia.

Por exemplo, passei um dia inteiro a pesquisar camisas de manga curta com o objetivo de ver se alguma aplicação me estava a “controlar” e para meu espanto nos dias seguintes os únicos anúncios que me apareciam eram exatamente de camisas de manga curta. Mas isto acontece também com conversas que temos com amigos, basta o telemóvel estar ligado. Se temos uma conversa sobre torneiras inox podemos ter a certeza de que nos vão aparecer anúncios sobre isso, o que torna todo este tema muito sensível. Será que a nossa privacidade pesa menos do que a integração nestas aplicações digitais? O problema é que muitas vezes sim.

Shoshana Zuboff, professora em Havard, publicou um trabalho (The Age of Capitalism Surveillance) em que alerta para o facto de o negócio da previsão dos nossos comportamentos ir inevitavelmente evoluir para o negócio de os determinar. Tal como diz numa entrevista: “The digital world that has formed itself around us, and the road to a digital future that we are on right now is something that has been hijacked by a rogue economic logic that I call surveillance capitalism. They have tried to make us believe that their practices are the inevitable outgrowth of digital technologies. We want digital then we must go along with their surveillance operations and consequences of those operations. We are talking of Google, Facebook, Amazon and Microsoft.”

É inegável a necessidade de uma reflexão sobre este tema, sobre como é possível criar regras que imponham algum tipo de regulação na utilização dos nossos dados. Apesar de ser mais que certo que existem benefícios inegáveis provenientes de algum tipo de recolha de informação na forma como interagimos digitalmente, os perigos são reais e cada vez mais evidentes.

Para terminar, deixo uma frase de Zuboff para reflexão, “Será que seremos mestres da informação ou apenas escravos?”.