O belo, segundo Kant, é um fenómeno estético,
exclusivamente humano, de capacidade de julgar e apreciar algo mediante uma
satisfação independente de qualquer interesse ou conceito que respeite essa
afirmação, defendendo um caráter não determinado do juízo estético. É um
movimento que têm efeito na nossa imaginação e entendimento, é, assim, uma
experiência puramente contemplativa, para a qual é
necessário suspender os interesses sensíveis e racionais. Esta estética é assim
dívida entre o belo clássico e o belo romântico, porém, não é esse o tema que se ira abordar aqui, mas sim, uma
apreciação estética do filme Зеркало (Mirror).
Зеркало, é um filme
de Andrei Tarkovsky de 1975. Trata-se de um
filme de caracter autobiográfica com uma estrutura original e não linear, que
incorpora mudanças de cena entre o presente e o passado, apresentadas através
da imagem a cor, como também preto e branco. Incluindo
poemas realizados pelo pai de Tarkovsky, é um
filme com recurso ao áudio sem uso de banda sonora. A escolha da palavra Mirror,
vai marcar e propor a ideia e a visão de duas narrativas na visualização deste
filme, apresentando assim duas vertentes: a do
realizador e a do espetador, sendo esta última
diferente para cada individuo, porém, irá sempre observar, interpretar e
contruir uma narrativa ao longo do filme. É
necessário apontar que, a ideia de dupla narrativa pode não ter sido algo
proposto ou trabalhado pelo realizador intensionalmente.
Neste filme podemos visualizar uma linha cronológica do
antes da guerra, guerra e pós-guerra, sendo uma obra que projeta a infância de
Tarkovsky e as suas memórias desde da evacuação para o espaço rural, durante a
guerra em 1935, a ausência do pai e o tempo que era apenas ele, o irmão e a
própria mãe.
A figura da mãe é um dos principais sinais de passagem de
tempo que primeiro observamos, sendo esta na cena da casa de banho, onde temos
esta personagem com o cabelo molhado a tapar-lhe o rosto, como se fosse uma cortina, que remete para um tempo
antes da guerra onde o marido ainda estava com ela, acompanhado pelo o momento
onde o cabelo é movido para trás, deixando o rosto a vista e mostrando a ideia
do tempo de guerra. É a partir deste momento, da mãe
numa toalha a olhar para o espelho, que observamos a passagem do tempo, pois é visível o envelhecimento da jovem mãe para uma
senhora mais velha, remetendo para um amadurecimento físico, como também
psicológico.
Durante os primeiros
minutos, é nos apresentando um jovem gago que diz “я могу говорить” (I
can speak) e é possível, dependendo de individuo
para individuo, fazer uma relação com o aspeto do espelho utilizado e
referenciado ao longo do filme, como a maneira em que o filme é o meio que
mostra e conta a história que Tarkovsky quer mostrar. Sabendo o carácter deste
filme e a própria frase citada acima, podemos apontar este filme como uma obra
de tempo e conservação do mesmo, sendo uma obra que visa representar e
preservar as memórias do realizador, invocando a seguinte frase presente no
filme que é “Words can’t express everything a person feels”, na maneira
como este filme é uma forma do realizador se expressar para além das palavras e
de assim falar para os demais, ou seja, “я могу говорить”.
A apreciação deste filme no campo do belo, leva a sua contemplação e ao respeito puro pelas formas e a maneira como o filme é realizado. Esta é uma obra onde simplesmente ignoramos os nossos interesses e construímos o nosso belo, um belo que é diferente para cada um e para cada leitura deste filme. É um belo que deixa de ser uma qualidade inerente e que passar a ser algo que serve como algo de prazer de qualidades que suscitam aos espetadores e que no fim geram o belo como uma representação com uma finalidade e sem fim.
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