terça-feira, 15 de junho de 2021

Capitalismo de vigilância

 

Sorria está a ser vigiado!

Acho que todos já ouvimos ou lemos esta frase em qualquer loja ou estabelecimento comercial e até sorrimos para a câmara quando isso acontece. O que nos devia preocupar é quando nos estão a vigiar sem sabermos, a tirar apontamentos de tudo o que escrevemos, pesquisamos ou comentamos apenas porque aceitamos políticas de privacidade em sites que muitas vezes nem sabemos os que estamos a aceitar.

As grandes empresas de tecnologia, tal como a Google, Microsoft, Facebook e Amazon têm um negócio muito próspero com a nossa base de dados. Para temos noção, a valorização destas empresas ultrapassa os biliões de dólares e a empresa que detém a Google atingiu um valor de um trilião de dólares em 2020. Isto porque nos últimos vinte anos a recolha e tratamento dos nossos dados foi feita sem regulações relevantes, o que permitiu a estas empresas vendê-los para melhorar a publicidade que nos é imposta no dia a dia.

Por exemplo, passei um dia inteiro a pesquisar camisas de manga curta com o objetivo de ver se alguma aplicação me estava a “controlar” e para meu espanto nos dias seguintes os únicos anúncios que me apareciam eram exatamente de camisas de manga curta. Mas isto acontece também com conversas que temos com amigos, basta o telemóvel estar ligado. Se temos uma conversa sobre torneiras inox podemos ter a certeza de que nos vão aparecer anúncios sobre isso, o que torna todo este tema muito sensível. Será que a nossa privacidade pesa menos do que a integração nestas aplicações digitais? O problema é que muitas vezes sim.

Shoshana Zuboff, professora em Havard, publicou um trabalho (The Age of Capitalism Surveillance) em que alerta para o facto de o negócio da previsão dos nossos comportamentos ir inevitavelmente evoluir para o negócio de os determinar. Tal como diz numa entrevista: “The digital world that has formed itself around us, and the road to a digital future that we are on right now is something that has been hijacked by a rogue economic logic that I call surveillance capitalism. They have tried to make us believe that their practices are the inevitable outgrowth of digital technologies. We want digital then we must go along with their surveillance operations and consequences of those operations. We are talking of Google, Facebook, Amazon and Microsoft.”

É inegável a necessidade de uma reflexão sobre este tema, sobre como é possível criar regras que imponham algum tipo de regulação na utilização dos nossos dados. Apesar de ser mais que certo que existem benefícios inegáveis provenientes de algum tipo de recolha de informação na forma como interagimos digitalmente, os perigos são reais e cada vez mais evidentes.

Para terminar, deixo uma frase de Zuboff para reflexão, “Será que seremos mestres da informação ou apenas escravos?”.

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