Quando o isolamento começou não estava à espera que acabasse por sofrer tantas consequências psicológicas de estar tanto tempo sozinho. Foi um ano muito complicado a nível emocional, que me fez abrir os olhos para uma noção de insignificância enquanto ser humano no mundo e de desprezo e falta de importância na vida dos outros.
Quando a pandemia chegou a Portugal ainda estava a meio do décimo
segundo ano e a escola acabou por mandar os alunos todos para casa para entrar
no regime online, as atividades foram todas canceladas e a viagem de finalistas
que toda a turma ansiava à 3 anos tinha sido cancelada. Mal sabia eu que o isolamento
estava só a começar. O ano terminou e ainda tentei ter um verão minimamente
normal, mas com o governo a impor novas regras e com as notícias dos danos e
propagação do vírus acabou por se tornar uma atitude irresponsável reunir-me com os
meus amigos que já não via a uns meses.
Para mim a situação agravou-se no início da faculdade, entrei
para a Faculdade de Belas Artes sem conhecer praticamente ninguém. Chegou a
haver um período de aulas presenciais onde acabei por conhecer alguns colegas da
turma uma vez que íamos todos almoçar ao refeitório e acabávamos por ter algum
tempo para conversar. O problema surgiu quando o número de casos aumentou e a faculdade
passou para regime online, e devido a este distanciamento físico sentia que o
contacto com os colegas diminuía e que não tinha tido tempo para formar qualquer
tipo de relação com o resto da turma.
Cheguei a um ponto em que os meus amigos do secundário começavam
a desaparecer, e achei curioso que só aqui é que realmente percebi que os
verdadeiros amigos que continuavam a falar comigo eram uma minoria mas mesmo com
tantos obstáculos como por exemplo uma mudança de ambiente e uma pandemia continuavam
a lembrar-se de mim. Esta filtração acabou por me afetar um
pouco porque não tinha compensado com amizades na faculdade até então. Sentia-me
que tinha ficado perdido no meio da ponte de transição sozinho.
Por outro lado, o isolamento ajudou-me a organizar na minha cabeça
a minha lista de prioridades e filtrar o que não me interessava. Foquei-me nas
pessoas que estiveram presentes quando os outros desapareceram e deixou-me
muito feliz aperceber-me da presença desse grupo de meia dúzia de amigos valia
mais do que aqueles com quem passava tanto tempo no passado e na verdade não
tinham o mínimo impacto na minha vida.
Concluo acrescentando que finalmente voltei a estar com
colegas da turma da faculdade e que sinto que têm tido um impacto muito positivo
no meu bem-estar e que sei que sempre que estou com eles posso contar com um
ambiente muito divertido. Estou com esperança que o próximo ano já consiga
voltar a normalidade porque me apercebi que não lido nada bem com a solidão e sinto-me
bem no ambiente da faculdade rodeado por toda aquela boa disposição.
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