Há cerca de 4-5 anos comecei a deparar-me com algumas situações
daquelas de que muita gente tem de vez em quando, de quando quero descrever algo,
mas não me consigo lembrar da palavra correta para o fazer, mas o mais estranho
e também aquilo que me chamou mais a atenção foi de que em muitas dessas situações,
a palavra para descrever essa mesma coisa em inglês vinha-me à cabeça
automaticamente, o meu problema era depois a tentar dizer o mesmo em português.
Isto começou logo a deixar-me curioso na altura. Sendo eu Português
e a minha língua principal ser português (pois nunca tive razões enquanto
crescia, pelo menos até cerca do 7º ano, 8º ano, para me familiarizar com outra
língua, à exceção da escola), pois a minha família no geral fala toda português,
porque estaria eu a começar a ter o inglês pré-programado na minha cabeça de
tal ponto a que me vem à cabeça primeiro as palavras para descrever algo, em
inglês, do que em português?
Digo 7º/8º ano, pois foi por volta dessa altura que comecei
a navegar mais na internet, pelo menos no que toca a sites internacionais e
onde comecei a interagir mais com conteúdo feito por pessoas que estavam a
falar inglês. Fosse este conteúdo, vídeos no Youtube, Instagram, Facebook, jogos, video streaming, filmes, séries, a
verdade é que era muito se não quase tudo em inglês, logo naturalmente comecei
a interagir mais com esta língua, sendo que o conteúdo que me começou a
interessar nessa altura, e me foi interessando até aos dias de hoje era
apresentado dessa forma.
Ao pensar nisto, por um lado fico contente, pois ajudou-me a
desenvolver uma certa confortabilidade com uma língua diferente da minha que
provavelmente não teria caso não tivesse tido este conteúdo em inglês, quase “forçado”
para cima de mim. Seguindo apenas o currículo escolar das aulas de inglês não seria
a mesma coisa, nem de perto, por muito bom ou mau que seja, não chega ao nível
de realmente interagir com o inglês diariamente/ constantemente.
Por outro lado, comecei a reparar nesta incapacidade de me
lembrar das palavras em português e apenas em inglês cada vez mais nos últimos anos
e isso começou a deixar-me preocupado. Por muito que aprecie ser capaz de falar
outra língua confortavelmente e fluentemente, não quero perder o contacto com a
minha principal, aquela com que cresci. Isto deixou-me a questionar se mais
pessoas sentiriam isto, principalmente na minha faixa etária e mais novas, desde
que a internet cresceu como cresceu, pode-se dizer que há uma certa falta de interação
com o português (penso eu), que a meu ver, é crescente ao longo dos anos, ao
ponto de se começar a sentir que estamos a esquecer o português e a
substitui-lo por outra língua, neste caso inglês, no nosso cérebro.
Quando comecei a reparar mais nestas questões e comecei a
ficar preocupado com elas, pus-me a pensar no que poderia fazer para parar este
processo ao qual eu atribuí a culpa à falta com o contacto com a língua portuguesa
que tenho vindo a ter nos últimos anos. A ideia que me chamou mais à atenção e
à qual eu acabei por me agarrar mais foi mesmo começar a ler mais livros (em
português, claro). Isto veio de eu estar a pensar na altura em que era mais
novo e quando não sentia esta falta de contacto, do que fazia diferente na
altura e lembrei-me que lia imensos livros.
O meu plano a partir dessa altura, há cerca de uns 2-3 meses
atrás tem sido, portanto, voltar a ler livros, conforme a disponibilidade que
tenho.
A sensação que tenho tido até ao momento é de que realmente
está a ajudar, não sei se muito o pouco, mas que está a ajudar, está e isso
para mim é suficiente.
Pensando bem no assunto faz sentido, ao ler um bocado todos
os dias, estou a forçar o contacto com o português mais um bocadinho do que
antes e se conseguir forçar-me a continuar a fazer isto, eventualmente
tornar-se-á um hábito que me está a ajudar neste objetivo.
Diria que esta seria uma boa maneira de ajudar quem sentir
que está a passar pelo mesmo tipo de situação que eu.
Estou curioso para ver, como me sinto daqui a 6 meses em
relação a este mesmo tópico, se será que já me sinto completamente à vontade
com isto e se já não sinto a mesma dificuldade em lembrar-me de palavras em português.
Se for capaz de já não sentir esta dificuldade e ao mesmo tempo manter a
confortabilidade que tenho com o inglês diria que então foi um objetivo
cumprido e que me deixará feliz por o ter concluído.
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