quarta-feira, 16 de junho de 2021

A ilusão da diversidade temática

 Hoje em dia temos todo um universo de informação na ponta dos dedos. Com três ou quatro toques conseguimos aceder a uma infinidade de conhecimento em livros, artigos, vídeos e uma vastidão de outros meios sobre uma abundância de temas, desde as questões mais prevalentes da atualidade, aos mais anódinos e insignificantes tópicos. Com esta quantidade e variedade de conteúdos, seria de esperar que estivéssemos constantemente expostos a diferentes temas, novas perspetivas e um leque de opiniões contrastantes, no entanto, cada vez mais, tem se verificado o contrário. Os conteúdos que nos são apresentados têm sempre tem ideias similares, e apesar da variedade disponível tendemos a ficar circunscritos àquilo que nos é familiar.

Um dos principais causadores disto, são, claro está, os próprios distribuidores de conteúdo. Estas empresas dependem inteiramente do interesse dos usuários no seu conteúdo, do tempo que estas gastam nas suas plataformas compradas com plataformas concorrentes. Assim, o verdadeiro objetivo destas empresas não é diversificar o nosso conhecimento, mas sim alimentar-nos de um constante fluxo de assuntos, conceitos e obras em que já demonstrámos um interesse, para não passarmos um momento entediados ou em conflito de opiniões com o conteúdo. É fácil, portanto, cair numa espiral de uma temática. Depois de interagir com um objeto desse tema, recebemos outro e se continuamos a receber temas semelhantes que complementam o anterior, e ainda que existam opiniões contrastantes sobre esse tema, estas não nos são apresentadas, uma vez que não encaixam tão bem no perfil que a plataforma cria para nós. Aqui, a quantidade de conteúdos acaba por ser inimiga da variedade, uma vez que a afluência de novos materiais semelhantes suplanta a necessidade de recomendar qualquer outra coisa.

No entanto, apesar de grande parte das vezes a crítica estar apontada para as grandes empresas e estas serem condenadas por esta problemática, cada usuário pode, e deve, também ser culpabilizado.

Na verdade, ainda que esta não nos seja apresentada frequentemente, existe uma desproporcional variedade de conhecimento nos meios digitais, e um dos maiores fatores para a nossa falta de interação com esta é a nossa própria inércia. Temos todos conhecimento da abundância disponível, no entanto, tornámo-nos completamente apáticos a isto. Muitas vezes estamos quase num estado de completa indolência, em que aceitamos o entorpecimento e o entretenimento fácil que obtemos com um conteúdo que não nos estimule ou nos desafie, preferindo ficar a ouvir observações semelhantes do que tentar compreender assuntos, debater ou confirmar a veracidade daquilo que nos é colocado à frente.

Contudo à mais um fator que reflete a atitude da sociedade atual: o narcisismo de cada ouvinte. Os media atuais, em particular as redes sociais criaram um culto da personalidade do qual, conscientemente ou não, muitas vezes tentamos fazer parte. Tornou-se bastante fácil para toda a gente partilhar a sua opinião, a sua vida e criar toda uma identidade apelativa, publicitar a sua vida privada e, acima de tudo, obter validação através dos meios digitais. Como tal, é mais reconfortante para o nosso ego ter as nossas opiniões pré formadas e o nosso ponto de vista apoiados e validados por aquilo que consumimos, do que ver aquilo em que acreditamos e o que dizemos ser questionado, debatido e contrariado. Portanto, mantemo-nos na nossa bolha para podermos ser legitimados e enaltecidos, sem ter de confrontar a possibilidade de estarmos errados.

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