Os bezerros de ouro continuam. Os símbolos que usamos e idolatramos têm apenas novas formas, formas inócuas e inofensivas. As palavras e as letras cegam-nos, dando-nos a falsa noção de que conseguimos de facto comunicar de modo claro e conciso.
Na verdade, cada palavra que adquirimos no nosso léxico apenas nos afasta daquilo que verdadeiramente sentimos; ou pelo menos é essa a visão defendida no Dualismo/ Dualidade de Platão. Esta visão é também representada de modo famoso e óbvio no Taoísmo e conceito de Tao, algo que quando dito, quando conscientemente assimilado pela nossa rede mental de padrões, símbolos e terminologias, perde a sua mensagem e significado (esta mensagem é curiosamente das mais universais em quase todas as religiões mais populares). Esses símbolos, caracteres com valor fonético podem parecer comunicar de modo satisfatório o nosso ponto de vista, no entanto, chegam a iludir o próprio sujeito do pensamento.
Isto é, um sentimento ou uma sensação é algo inexplicável, que de certo modo nos transcende ainda, mas, como é típico do ser Humano, a necessidade por explicar e compreender tudo por símbolos de valor qualitativo idealmente universal é mais forte que a necessidade de ser imerso pelo sentimento e experienciá-lo plenamente.
Efetivamente, quando éramos apenas bebés, tínhamos visualmente emoções, emoções estas que eram, mesmo sem linguagem, compreensíveis e qualificáveis pelas pessoas que entravam em contacto conosco. Não conhecíamos a linguagem, as letras eram ainda nada mais que rabiscos sem valor. O nosso pensamento não poderia ter uma voz que se expressava por palavras humanas, no entanto a emoção era tão pura. Gostaria de saber em que é que eu pensava mas este próprio desejo está me a ser comunicado por palavras, numa voz interior, que influenciam e transfiguram a minha vontade. Mesmo se eu me conseguisse exprimir como sempre sonhei, ninguém compreenderia. O meu discurso nunca será coerente o suficiente para satisfazer a minha necessidade por compreensão.
As palavras não são o sentimento, são uma mera interpretação humana de algo inexplicável por palavras criadas por seres efêmeros. São o nosso bezerro de ouro atual, confiamos nelas tudo, todas as nossas relações, muitas vezes sem pararmos para pensar no quão a interpretação de frases pode afetar a situação. Damos lhes um valor divino e deixamos que elas governem o mundo, raramente cientes que nada é mais puro que um sentimento não pensado. É o nosso pequeno jardim de Éden, antes das palavras e dos símbolos que uso aqui para expressar uma ideia inexpressável.
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