sábado, 19 de junho de 2021

Não há cabeça

De repente caiu sobre mim algo bastante claro: estou cansado. É isso. É mesmo isso. Estou mesmo cansado. Como é suposto estar em junho e não pensar só em praia e descanso? Como é suposto ainda estar a trabalhar para a escola? Foi um ano complicado e percebo o porquê de ser cada vez mais complicado trabalhar- estou cada vez mais cansado e não há energia de reserva nem adrenalina final. Há só um último remoer de entregas finais que chateiam a cabeça e o corpo. É uma questão de sobrevivência: de conseguir, de facto, entregar os projetos e simultaneamente, e se possível, poupar a minha saúde.

Tem sido difícil escrever algo aqui para o blog. Pensei em 1000 temas e comecei a escrever uns quantos, mas parei sempre porque nada me entusiasmava e, adivinharam: estou cansado. Nem escrever sobre não estar a conseguir escrever conseguia.

O último texto que comecei a escrever era uma reflexão sobre como me sentia relativamente ao ensino artístico. Mas também parei esse. Estava a ver o meu pensamento levar-me para palavras-chave como “injustiça” e “certo” e “errado”, e não gosto muito de ter o meu raciocínio a incidir nesses termos que simplificam as coisas porque acho que pouco acrescentam à conversa muito mais complexa que é estar a estudar artes hoje em dia.

No entanto, dessa reflexão ficaram indícios que ainda vivem aqui na cabeça.

Questiono-me sobre a estruturação de um curso artístico por padrões e regras semelhantes a outros cursos mais técnicos e teóricos. Questiono-me sobre a relevância das notas, que mais me parecem uma padronização e organização de algo não tão organizado. Prazos, diretas, frustrações; um ano sem entreajuda e comunicação entre colegas, um ano em que uma casa vira atelier, oficina e sala de aula; pensar a curto prazo, viver cada entrega e não conseguir pensar nas que são mais longínquas, tentar fazer a minha cena mas não ter o espaço nem tempo para a fazer: acho que é isso que me fica deste ano.

O meu papel como aluno não devia ser queixar-me nem, muito menos, considerar a escola um entrave. Não é particularmente essa a minha posição de qualquer forma. No entanto, não preciso de ser lesado e afetado de uma forma que me incapacite e me fracasse, de uma maneira ou outra, para me aperceber de todas as lacunas existentes. De facto, também não sou de todo imune ao sistema académico e artístico. E por mais que queira, estou a ver que sempre me vou queixar porque tenho o direito de ser crítico de um sistema no qual me escolhi inserir conscientemente. E não vejo as coisas muito bonitas. Mas não é tudo mau. Também, o que é que eu sei? Estou cansado e já não estou com cabeça para sequer queixar-me.


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