A linguagem, seja em que forma é utilizada, é essencial para
comunicar informações, expressar ideias, faz parte da nossa forma de interação,
de compreensão. Nem toda a gente consegue falar no sentido estrito de se
expressar verbalmente, no entanto, existem alternativas de comunicação, isto
porque criámos tantos símbolos que podemos escolher uns quantos e arranjá-los
de forma a criar um sistema complexo em que atribuímos um valor a outro e é
possível comunicarmo-nos dessa forma, chega a ser fascinante.
Um fenómeno igualmente fascinante para mim é como toda a
gente sabe falar, no sentido de se expressar por estes símbolos, mas nem toda a
gente se sabe comunicar. Todos nós de forma ou outra sabemos que estes símbolos
existem, e constantemente tiramos proveito deles e fazemos um puzzle para
podermos ter conversas, discussões e todo o tipo de interações que
experienciamos diária e frequentemente. Mas será que sabemos usar esses
símbolos para comunicar aquilo que realmente queremos dizer, o que realmente
importa quando importa, as nossas necessidades, o que queremos de alguém, o que
não queremos de alguém? É aí que no meu entendimento, a linguagem ganha uma
complexidade absurda além do seu próprio universo, expandindo para outro, mas
não me admira já que o ser humano que criou estes símbolos é igualmente
complexo e as condições sociais, culturais e emocionais que lhe são associadas
são o universo a que se junta.
Misunderstanding é uma palavra que gosto bastante, ou no sistema linguístico
no qual escrevo de momento, mal entendido, parece acontecer com alguma
frequência pelas mais variadas razões. Ocorre-me demasiados exemplos de
situações em que palavras não chegam sequer a desenrolar da língua por medo,
inconveniência, vergonha, medo, receio, censura e afins. Ou aquelas
circunstâncias em que algo é proferido com uma fluidez perigosa, palavras
imediatamente livres sem sequer passarem pelo processo ou filtro de saber se
eram essas as palavras certas. Em nenhum destes exemplos normalmente passa a informação
que realmente precisa de ser transmitida. E quando não é absolutamente
proferido nada porque a pessoa está sem palavras? Muito menos.
Como se não fosse o suficiente, para adicionar à pilha de
complexidade, a linguagem é também aprisionada numa vertente pessoal e cria imensos
mini “dialetos”…acho que ficamos por aqui e é melhor não tocar sequer em como
várias linguagens podem operar simultaneamente e complementar-se ou criar outro
dilema ao contradizer-se (nomeadamente linguagem expressa acompanhada de
linguagem corporal), voltemos ao que eu considero estes mini “dialetos”. Apesar
da linguagem continuar a ser geral mesmo após ser condicionada, cada um acaba
por criar a sua própria linguagem dependendo de como ela é ensinada e aprende a
comunicar-se. Difere através da cultura, a forma como somos permitidos ou não
expressar as nossas necessidades, sentimentos, a relevância ou não de sermos
ouvidos, se temos espaço para nos expressar inclusive. As possibilidades e
combinações destas são extensas, o que acontece então quando o nosso dialeto se
depara com o dialeto formado por alguém que teve uma experiência completamente
diferente?
Muitas vezes, conflito. Misunderstanding. A diferença
da linguagem é notável a partir do momento em que temos alguém para a receber e
interpretar através do seu próprio sistema criado pela experiência pessoal,
inerentemente com algumas variações do nosso. Quem nunca achou que alguém era
um tanto idiota ou surpreendentemente pouco observador pois não captou algo que
pensámos ou sentimos que era óbvio e claramente não precisava de
palavras ou uma explicação que atire a primeira pedra. O problema aqui é
simplesmente falta de comunicação direta.
Daí a afirmar que fascinantemente, a linguagem é algo
absurdamente complexo e que muitos de nós facilmente a sabem usar, mas nem
tanto realmente a sabemos compreender. Falar é fácil, comunicar as nossas
ideias de forma aberta e direta de forma a expressar as nossas necessidades e
criar as nossas próprias limitações, nem tanto. Muitos de nós nem se apercebem que muitas
vezes estamos a usar linguagens diferentes apesar de não parecer, seja nas
nossas relações românticas ou platónicas, não há exceções.
No entanto talvez me esteja a focar demasiado nos pormenores,
aliás, é uma linguagem geral o suficiente para carregar todas as nossas
interações durante vinte e quatro horas por dia de forma mútua e bastante
compreendida, mesmo com os conflitos que vão aparecendo pelo caminho. A partir
do momento em que entendemos estas nuances, variações de linguagem, podemos
adicioná-la também à nossa linguagem, podemos aprender, desaprender,
reaprender e até encontrar chão comum entre estes mini “dialetos” e comunicar
de forma mais direta, já que a linguagem está também em constante mudança e
reforma, tão complexa como os seus criadores.
P.S. Se
alguma das minhas ideias parecer pouco clara ou confusa, peço desculpa, admito
que também estou no processo de me tentar comunicar melhor.
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