segunda-feira, 14 de junho de 2021

Toda a gente sabe falar, mas comunicar diretamente é outra história

 

A linguagem, seja em que forma é utilizada, é essencial para comunicar informações, expressar ideias, faz parte da nossa forma de interação, de compreensão. Nem toda a gente consegue falar no sentido estrito de se expressar verbalmente, no entanto, existem alternativas de comunicação, isto porque criámos tantos símbolos que podemos escolher uns quantos e arranjá-los de forma a criar um sistema complexo em que atribuímos um valor a outro e é possível comunicarmo-nos dessa forma, chega a ser fascinante.

Um fenómeno igualmente fascinante para mim é como toda a gente sabe falar, no sentido de se expressar por estes símbolos, mas nem toda a gente se sabe comunicar. Todos nós de forma ou outra sabemos que estes símbolos existem, e constantemente tiramos proveito deles e fazemos um puzzle para podermos ter conversas, discussões e todo o tipo de interações que experienciamos diária e frequentemente. Mas será que sabemos usar esses símbolos para comunicar aquilo que realmente queremos dizer, o que realmente importa quando importa, as nossas necessidades, o que queremos de alguém, o que não queremos de alguém? É aí que no meu entendimento, a linguagem ganha uma complexidade absurda além do seu próprio universo, expandindo para outro, mas não me admira já que o ser humano que criou estes símbolos é igualmente complexo e as condições sociais, culturais e emocionais que lhe são associadas são o universo a que se junta.

Misunderstanding é uma palavra que gosto bastante, ou no sistema linguístico no qual escrevo de momento, mal entendido, parece acontecer com alguma frequência pelas mais variadas razões. Ocorre-me demasiados exemplos de situações em que palavras não chegam sequer a desenrolar da língua por medo, inconveniência, vergonha, medo, receio, censura e afins. Ou aquelas circunstâncias em que algo é proferido com uma fluidez perigosa, palavras imediatamente livres sem sequer passarem pelo processo ou filtro de saber se eram essas as palavras certas. Em nenhum destes exemplos normalmente passa a informação que realmente precisa de ser transmitida. E quando não é absolutamente proferido nada porque a pessoa está sem palavras? Muito menos.

Como se não fosse o suficiente, para adicionar à pilha de complexidade, a linguagem é também aprisionada numa vertente pessoal e cria imensos mini “dialetos”…acho que ficamos por aqui e é melhor não tocar sequer em como várias linguagens podem operar simultaneamente e complementar-se ou criar outro dilema ao contradizer-se (nomeadamente linguagem expressa acompanhada de linguagem corporal), voltemos ao que eu considero estes mini “dialetos”. Apesar da linguagem continuar a ser geral mesmo após ser condicionada, cada um acaba por criar a sua própria linguagem dependendo de como ela é ensinada e aprende a comunicar-se. Difere através da cultura, a forma como somos permitidos ou não expressar as nossas necessidades, sentimentos, a relevância ou não de sermos ouvidos, se temos espaço para nos expressar inclusive. As possibilidades e combinações destas são extensas, o que acontece então quando o nosso dialeto se depara com o dialeto formado por alguém que teve uma experiência completamente diferente?

Muitas vezes, conflito. Misunderstanding. A diferença da linguagem é notável a partir do momento em que temos alguém para a receber e interpretar através do seu próprio sistema criado pela experiência pessoal, inerentemente com algumas variações do nosso. Quem nunca achou que alguém era um tanto idiota ou surpreendentemente pouco observador pois não captou algo que pensámos ou sentimos que era óbvio e claramente não precisava de palavras ou uma explicação que atire a primeira pedra. O problema aqui é simplesmente falta de comunicação direta.

Daí a afirmar que fascinantemente, a linguagem é algo absurdamente complexo e que muitos de nós facilmente a sabem usar, mas nem tanto realmente a sabemos compreender. Falar é fácil, comunicar as nossas ideias de forma aberta e direta de forma a expressar as nossas necessidades e criar as nossas próprias limitações, nem tanto.  Muitos de nós nem se apercebem que muitas vezes estamos a usar linguagens diferentes apesar de não parecer, seja nas nossas relações românticas ou platónicas, não há exceções.

No entanto talvez me esteja a focar demasiado nos pormenores, aliás, é uma linguagem geral o suficiente para carregar todas as nossas interações durante vinte e quatro horas por dia de forma mútua e bastante compreendida, mesmo com os conflitos que vão aparecendo pelo caminho. A partir do momento em que entendemos estas nuances, variações de linguagem, podemos adicioná-la também à nossa linguagem, podemos aprender, desaprender, reaprender e até encontrar chão comum entre estes mini “dialetos” e comunicar de forma mais direta, já que a linguagem está também em constante mudança e reforma, tão complexa como os seus criadores.

 

P.S. Se alguma das minhas ideias parecer pouco clara ou confusa, peço desculpa, admito que também estou no processo de me tentar comunicar melhor.

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