segunda-feira, 14 de junho de 2021

2ª corrida espacial e o futuro da humanidade

No século passado, como sabemos, houve uma grande concorrência entre os Estados Unidos e a União Soviética na corrida espacial. Grandes acontecimentos tomaram lugar nessa altura, sendo o principal astronautas terem pela primeira vez pisado o solo lunar. Esta altura ficou também marcada por um dos acontecimentos mais bonitos de que tenho conhecimento. Em 1973 a missão Apollo - Soyuz foi a primeira missão tripulada internacional. Nesta missão, as 2 grandes potências no meio da Guerra Fria realizaram um rendez-vous em órbita (quando 2 naves se encontram no espaço para troca de carga, tripulação, etc.). Este acontecimento ficou conhecido aliás, como um aperto de mão em órbita e considera-se que marca o fim da corrida espacial.
Desde essa altura a indústria espacial esteve um pouco estagnada. Tivémos alguns marcos importantes sim, tais como algumas estações espaciais de vários países, sendo a principal a ISS (International Space Station), com módulos da NASA, ESA, JAXA e Roscosmos. Esta estação simboliza os avanços de que a humanidade pode beneficiar quando trabalha em conjunto. Conseguimos também entretanto enviar sondas e rovers para Marte. Mais umas quantas sondas para outros planetas, enfim, no fundo nestas últimas décadas apenas andámos a apalpar terreno para o que aí vem.
A próxima corrida espacial está agora a começar. Empresas privadas são agora as grandes apostas para o sucesso. As agências governamentais, principalmente a NASA, atribuem contratos bilionários a empresas como SpaceX, Lockheed Martin, Blue Origin, Rocket Lab, Airbus, entre muitas outras. O objetivo é, ainda esta década, colocar a humanidade de novo na Lua, e criar lá uma base de auxílio para a exploração de outros planetas. Nesta segunda corrida espacial temos não só empresas privadas, como também mais países a participar. O progresso tem sido enorme nos últimos anos.
Tomando a SpaceX como exemplo irrepreensível de progresso, nesta década conseguiram criar um foguete reutilizável que aterra sozinho (com excepção do segundo estágio), e nele, a partir de 2020, lançar de novo astronautas para a ISS a partir do solo americano com uma cápsula própria (algo que não acontecia desde que acabou o programa do Space Shuttle). Estão também a criar uma rede de satélites focada em fornecer internet rápida a áreas remotas (Starlink), que em fase beta já fornece resultados muito promissores (mesmo sem estar completa). Esta rede de satélites de baixa órbita será constituída de milhares de satélites que comunicam entre si. Neste momento trabalham também numa nova nave, completamente inovadora que a cada teste prova o que muitos achavam ser impossível. Esta nave chamada Starship, consiste em 2 partes, o propulsor de 70 metros (Super Heavy Booster) e a nave principal de 50 metros (homónima - Starship) com uma capacidade de carga nunca antes vista. Esta configuração chegaria para elevar 2 foguetões Saturn V à órbita terrestre.
O meu interesse nesta nave em específico, vem do facto de mesmo sendo a maior já alguma vez construída com 120 metros de altura no total e 9 metros de diâmetro, será a nave mais barata alguma vez feita e a mais barata para voar. Poderá ser usada para transporte de pessoas e carga dum lado ao outro do planeta em menos de 1 hora. Fará viagens à ISS, à Lua, a Marte e futuramente a outros corpos celestes. 
Algo muito interessante também, é a forma como a SpaceX lida com a atenção pública. Em vez de fazerem como todas as outras empresas e agências, e esconderem tudo atrás de grandes edifícios e vedações onde constroem as naves e só as vemos quando estão acabadas, a empresa do Elon Musk faz tudo aberto a qualquer um para ver. Na vila de Boca Chica, em Texas, perto do Golfo do méxico várias pessoas na internet interessadas no seu progresso, montaram câmaras que transmitem 24 horas por dia o progresso da construção dos vários protótipos nas suas tendas temporárias, e das bases de lançamento onde já 4 naves tiveram um fim catastrófico (RUD - Rapid Unscheduled Disassembly) e apenas 1 sobreviveu (SN15) à data deste post.
Poderia continuar aqui mostrar o meu fascínio por esta nave e outras até, mas o meu objetivo com esta publicação é refletir no futuro da exploração espacial e o que trará à humanidade. O que a SpaceX está a fazer ao permitir que o público se sinta envolvido em todo o processo, é atrair atenção para si mesma e motivar-nos a exigir dos nossos governantes que vão mais além.
Mas o que acontecerá quando já tivermos montadas bases na Lua, em Marte e em órbitas ou até mesmo noutros planetas? Será o espaço um destino reservado apenas aos mais ricos? Qual será o escrutínio para decidir quem poderá ou não colonizar outros corpos celestes?
Ao falar disto com algumas pessoas, o que tenho percebido é que há uma preocupação geral, um medo até talvez, que os ricos sairão todos da Terra apenas para viver em ambientes artificiais, controlados de forma a satisfazer todas as suas necessidades. Se isso acontecer, irão os ricos olhar para quem continua na Terra como uns escravos que lá ficaram no meio da poluição a continuar a extrair recursos naturais para o seu exclusivo usufruto?
Esta segunda corrida espacial não traz somente avanços científicos. O turismo espacial está também em desenvolvimento, com empresas como Virgin Galactic e a Blue Origin com a sua nave New Shepard, destinada a lançar o CEO da empresa (Jeff Bezos) e outros passageiros ainda este ano de 2021. Havendo tantas empresas a apostar nesta indústria, a vender lugares tão caros nas suas naves, é fácil entender as preocupações de quem acha que a exploração espacial só trará distanciamento entre os seres humanos. Para além disso há quem esteja extremamente preocupado com o lixo espacial que isso trará.
Para além dos ricos haverá alguma distinção entre ocupações, isto é, será que desde artistas a cientistas todos terão oportunidades iguais, ou apenas pessoas da ciência serão vistas como essenciais?
Sendo eu um grande adepto da ideia da exploração espacial, não consigo tirar uma conclusão imparcial destas preocupações. Na minha opinião apenas nos reserva esperar para ver e entretanto lutar para que se continue a regular o acesso ao espaço de forma justa.

Este texto foi escrito com base em informação que eu sei, como referi, por acompanhar muito de perto a indústria da exploração espacial. Por esta razão não tenho bibliografia, mas aconselho vivamente a quem esteja interessado, pesquisar e aprofundar o seu conhecimento neste mundo magnífico de engenharia e ciência.

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