Ser ou não ser. Já não sei bem a quem cabe essa questão. Durante muitos anos achei que fosse a mim, mas sempre com as minhas dúvidas por mais pequenas que fossem, mas desde que ouvi a frase: "Uma pintura apenas passa a ser obra de arte se assim for considerada pela maioria da sociedade" que o assunto rodopia na minha cabeça. Eu posso definir-me, mas o que realmente conta é como os outros me definem, pois é de acordo com isso que vou viver. Posso querer muito definir-me como extrovertida e social, mas as pessoas que sempre me viram como tímida não vão parar de me tratar como tal. Sendo assim, vou ser sempre tímida mesmo que fale com cada estrangeiro que encontre na baixa ou qualquer pessoa meio perdida na faculdade. Neste caso, a opinião destas pessoas deve-se ao que estão habituadas a ver e não é por poucas ocasiões (na sua perspetiva) que a vão mudar.
Existem várias situações deste tipo, consigo enumerar pelo menos mais duas: o oposto da explicada acima, ou seja, fiz algo diferente UMA vez e fica marcado e o nunca fiz e por alguma razão ficou marcado.
São ambos destinos infelizes, aliás são os três, o único feliz é aquele em que realmente nos veem pelo que queremos (é comum em alguns casos, mas não muito na minha experiência).
É frustrante e doloroso, como uma comichão impossível de encontrar e saciar, tentar convencer alguém (incluindo nós próprios) de que somos algo. Podemos pôr todo o nosso ser nas nossas palavras e isso só nos vai magoar mais, porque a única forma de provar é mostrar e isso demora mais tempo do que o que seria desejável, mais tempo a sofrer.
No último caso, o que a sociedade pensa e impõe pode mesmo chegar a ser o que nos confunde mais e ainda se tornar a nossa nova realidade, a nossa nova luta por aceitar, luta esta que consegue quebrar-nos e em vez de ser só travada no exterior com os outros passa também a ser no interior connosco. Sou calada? Sou frágil? Sou maria-rapaz? Não sou sociável? Não sou desportiva? Não sou feminina? Sou bem-sucedida e perfeita? Sou fraca e escolho o caminho mais fácil?
A resposta a estas e a mais perguntas parece que nunca dependeu de mim. Posso ser bem-sucedida…, mas errei uma vez e já não o sou. Exemplo real, chumbei num exame. Nunca chumbei a nenhuma cadeira no curso todo, orgulho-me muito disso, e os meus pais também, mas agora de repente, já não faço o suficiente e o ambiente ficou tenso, já não sou o que era. Uma vez.
Sou de confiança se os outros assim me virem, sou boa aluna se os outros assim me virem. Sou eu se os outros assim me virem.
Eu, apesar dos meus esforços por independência, nunca vou conseguir escapar a esta força que me puxa para uma caixa com um rótulo bonito com a minha descrição. Solução? Posso viver na ignorância, até gosto deste tipo de ignorância, faz-me feliz.
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