quarta-feira, 9 de junho de 2021

Não sei, sempre foi assim

O mundo funciona de uma forma.

Desde que nascemos, coisa que não podemos recusar, vivemos neste mundo e aceitamos a maneira como ele funciona. Uns aceitam mais, outros aceitam menos, mas a grande maioria não tem grande escolha senão aceitar a essência do funcionamento do mundo.

Temos os fenómenos da natureza, o dia e a noite, a passagem do tempo, as necessidades fisiológicas de cada um... são coisas que não dependem de decisões humanas, logo faz sentido aceitá-las como são e adaptar-nos a elas, e decidimos então moldar a nossa maneira de viver à sua ocorrência. Mesmo assim, por vezes, é difícil aceitá-las também apesar da nossa verdadeira impotência perante elas. 

Mas temos outro conjunto de leis que nos são impostas pelo mundo, não necessariamente pela natureza mas pela organização civilizacional que se desenvolve ao longo dos tempos simultaneamente por todos mas diretamente por ninguém (que eu conheça, pelo menos). Entre elas temos o dinheiro, temos os negócios, temos o trabalho, o sistema escolar e académico, os horários e a forma como a vida se vive de forma acelerada para acomodar tudo isto que se decidiu que se tinha que fazer. Tudo coisas que sabemos que têm grandes falhas, que prejudicam grandes grupos de pessoas, que ocupam as nossas curtas vidas de stress e infelicidade e morte, que existe a plena possibilidade de se alterarem, mas que por algum motivo grandioso não se mudam. 

Existiu para mim um momento em que me apercebi que este segundo conjunto de leis pelas quais nos dirigimos não são leis fixas do universo, sendo que vivi os primeiros anos da minha vida com a ideia de que tudo tinha que ser assim porque era assim. Não sei, provavelmente é uma experiência comum pelos quais todos passamos, mas como tive vários desbloqueios deste género que me causaram bastante ansiedade no meu processo de crescimento, penso bastante nesses momentos em que um interruptor dentro de mim se acendeu e ganhei um novo nível de consciência. 

Tudo isto para chegar à ideia de que sinto que a minha geração, a tão discutida e alegadamente sensível GenZ, sente um grande desespero e angústia perante estas leis que ditam a nossa vida. E claro, é possível alegar que todas as gerações jovens de cada época sentiram estas angústias e quiseram lutar. Mas, a meu ver, a maneira como fomos a primeira geração a crescer ligados à internet e à infinita informação que esta contém condicionou-nos a sentir mais profundamente sobre estes assuntos. Através de memes, de posts ou de vídeos de poucos segundos, é cada vez mais difícil ignorar as informações que nos são dadas acerca do mundo, de como uma série de desconhecidos se sentem, de como um conjunto de pessoas foi afetada por algo que aconteceu. É cada vez mais difícil aceitar uma vida que perpetua o mau-estar de tanta gente e é cada vez mais difícil aceitar comportamentos que ignoram a existência de informação, precisamente porque esta está tão disponível.

Cada vez fica mais insuportável lidar com o futuro que nos espera e aceitar cegamente que as coisas são assim porque têm que ser assim. Porque sabemos que não tem que ser assim. Mas como é que pode ser? Não sei, sempre foi assim. 

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