Hoje o dia está bonito, as nuvens são poucas e cobrem o céu azul iluminado pelo sol.
Tenho a roupa estendida e não consigo ver o que está para além dela, mas sei que são os prédios dos meus vizinhos da frente.
A minha mãe está a chorar devastada na cozinha porque hoje possivelmente será o último dia que ela irá ver a sua irmã.
Já me levantei e fui comprar-lhe lenços a uma loja de conveniência aqui perto, e aqui estou, sentada à frente do meu computador coberto com um véu de pó pois não tenho motivação para limpar nem arrumar o quarto.
A definição de difícil às vezes é difícil de usar em certas situações. Podia explicar que estou a passar por uma situação difícil, mas se é difícil significa que se consegue ultrapassar, e por vezes parece que nem se quer é algo que tenho que ultrapassar e tenho que me habituar.
A vida não é uma montanha-russa, porque as montanhas russas tem várias voltas, rodopios, altos e baixos e isso parece-me demasiado divertido para ser algo tão sério. A vida, pelo menos neste momento, é uma viagem de trotinete na calçada lisboeta da baixa chiado. Quem tem o talento de andar de trotinete parece algo fácil de executar. Quem não tem essa aptidão, volta e meia, cai abruptamente no chão.
Realmente quem disse que a vida é o que quisermos fazer dela tem bastante razão, mas às vezes por uma questão de sorte ou azar, parece que acontecem coisas que nos põem à prova.
Como é suposto eu me sentir depois de me apresentarem um leque de coisas negativas que estão a acontecer à minha volta e comigo mesma? Não sei como é que é suposto lidar com isso, nem sequer sei bem o que é negativo ou positivo a este ponto.
Neste momento sinto que o meu cérebro está coberto de uma nuvem negra que não me permite ver muitas coisas à frente, ou como se tivesse um cadeado na cabeça.
Sinto que tudo ao qual estou a lutar neste momento não faz sentido, todo o esforço que estou a pôr nos estudos e todas as horas trabalhadas num trabalho explorador e que paga pouco é irrelevante.
Às vezes as coisas não precisam de ter um sentido, nem tudo tem que ser “obra do destino”, e o pior é que essa informação é tão difícil de dirigir, como se fosse um analgésico que não entra à primeira.
Gostava de ser uma pessoa religiosa.
Talvez se fosse religiosa agarrava-me à minha fé em Deus, acendia uma vela e rezava ao meu crucifixo, ia à igreja e falava com um padre sobre os meus problemas. Ele provavelmente diria-me que Deus está a reservar-me algo de muito bom e era só esperar e continuar a rezar que iria ficar tudo bem.
Depois de esperar e rezar muitos “Avés Marias”, talvez quando as coisas melhorassem, podia acreditar que foi obra divina e agradecer a Deus por tudo aquilo que me deu e por melhorar a minha vida.
Mas infelizmente, algo no meu cérebro e no meu coração, diz que não é a Deus que tenho que agradecer mas sim a mim mesma, porque eu sou a pessoa que melhor me conheço, e tenho a certeza que eu existo e que eu me esforço pelas minhas coisas.
Hoje o dia está bonito, as nuvens já não cobrem o céu que está azul e iluminado pelo sol.
Se hoje o dia está de sol porque é que hoje eu estou tão cinzenta?
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