Foi há menos de um ano que li um livro chamado “The Righteous Mind”, um dos temas abordados foi a maneira de nós, seres humanos, realizarmos julgamentos morais.
Segundo é narrado, ocorreram experiências em ambiente académico com intuito de corroborar a defesa de Hume em relação ao empirismo ao invés de ideias como as de Platão e o racionalismo. É apresentada a ideia de os nossos julgamentos morais basearem-se nas nossas emoções seguidas de uma explicação lógica para a mesmas, intuições em primeiro lugar, razão em segundo.
Um dos exemplos de uma pergunta realizada aos entrevistados foi a de um cenário hipotético onde dois irmãos tinham relações sexuais apenas por curiosidade, uma única vez, onde ambos usavam métodos contracetivos. Muitos dos inquiridos acharam moralmente errado, mas também não sabiam explicar porquê, recorrendo em última instância aos argumentos com raiz religiosa.
Outro exemplo bastante interessante aquando deste tipo de perguntas, foi um grupo de inquiridos ter de responder de imediato à pergunta e o outro grupo tinha que fazer uma pausa de alguns segundos antes de responder. Observou-se assim uma maior reflexão e aceitação por parte do segundo grupo enquanto no primeiro houve uma maior percentagem de rejeição quando leu a pergunta o tipo de perguntas descritas em cima.
Não consigo não associar este exemplo ao tema da legalização da Cannabis. Ao longo dos tempos, quando tenho conversas sobre este tema, sinto que há uma enorme rejeição sem as próprias pessoas saberem ao certo o porquê deste sentimento. Especialmente quando as pessoas dão respostas quase instantâneas a este tema e há pouca argumentação que corrobore a sua posição.
Parece-me também haver sobretudo muito falta de informação e um conjunto de sentimentos associados a este tema que desperta o medo por parte das pessoas. Além da falta de informação é criada também uma imagem errada gerada a partir, por exemplo, da comunicação social ou da indústria do entretenimento. Ao associar a planta Cannabis com as restantes drogas, podemos esperar que uma boa parte das pessoas que não tenha interesse em pesquisar de uma forma mais aprofundada sobre o tema, associe a planta a toda a violência e mortes resultantes das mesmas.
É também sabido que existem possíveis efeitos secundários negativos do uso excessivo da Cannabis como o agravamento da depressão ou a desmotivação.
Por outro lado, sabemos que apresenta muitos benefícios no tratamento de Parkinson, epilepsia, ansiedade, hiperatividade ou como amenizadora dos efeitos da quimioterapia.
Desde 2001 que Portugal é considerado por muitos países um exemplo no toca a lidar com o tema das drogas, desde a descriminalização da posse para consumo, até a deixar de tratar os toxicodependentes como criminosos e ajudá-los superar o vício. A legalização da Cannabis iria com grande probabilidade diminuir o tráfico de droga e a violência gerada à volta do mesmo.
Ao mesmo tempo Portugal conta com excelentes condições meteorológicas e geográficas para a plantação da planta. Seria bastante positivo do ponto de vista económico, por exemplo, na criação de emprego ou no aumento da população no interior do país. O aumento do consumo de Cannabis é bastante elevado nos últimos anos, e as pessoas que a consomem não a adquirem ao ir a uma loja e muitas vezes não sabem se estão a comprar um produto que possa conter substâncias nocivas para a saúde. Uma regulamentação na qualidade e, por exemplo, nos níveis de THC, ajudariam a reduzir estes problemas dos consumidores.
Não acho que baste apenas legalizar a Cannabis, é necessário continuar a procurar e resolver os problemas associados à dependência, ao consumo por menores que muitas vezes é o ponto de entrada para o mundo da economia paralela, bem como a situação social que origina estes problemas.
O mais importante a reter, na minha opinião, é que existem bastantes temas na nossa sociedade em que as pessoas têm uma opinião pré formada sem que nunca se tenham debruçado sobre os seus “porquês” e muitas vezes estas ideias são baseadas nas vivências e no percurso de cada um de nós. É de extrema importância que as pessoas se questionem, que tentem perceber o porquê e que continuem sempre a aprender, só assim evoluiremos como sociedade.
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